Sua voz soa como música nos meus ouvidos. Nem me atento às palavras que saem de seus lábios, elas não me interessam, não me dizem nada sobre você; falam de algo que eu preciso saber, mas não quero, não agora. Fecho os olhos e ouço só a sua voz, esse timbre aveludado que me faz sonhar acordada, me faz pensar como seria o gosto na boca. Vou mudando as suas palavras, e pouco a pouco, um discurso sobre história da arte vira um sussurro apaixonado soprando perto da minha orelha e eu sorrio com os olhos fechados, pensando no meu segredo.
Ninguém sabe dos meus devaneios.
À noite você me acompanha até em casa, vamos caminhando pelas ruas escuras e dessa vez eu nem me atento para os perigos da cidade, meus olhos e ouvidos estão só em você, que fala só para mim, olha só para mim, e o momento parece eterno, parece mágico, parece filme - e dou piruetas de balé no meio da calçada pra parecer filme mesmo, e você ri, me chama de doida, e eu sou mesmo. Paro na entrada do meu prédio e o caminho parece que foi curto demais. Você se despede com um aceno, mas este é o meu filme. Seguro sua mão e furtivamente toco seus lábios com os meus e eu sei que você não sabe o que fazer e por isso sorrio na sua boca. Foi pouco, alguns segundos, mas consegui sentir o gosto de chocolate da sua voz de veludo, e isso pra mim já é tudo.
Te deixo confuso na calçada, tentando entender, tentando me entender, e o quê fazer depois, e quase sinto pena, se não sentisse um prazer incrível por realizar essa fantasia secreta. E se no outro dia você quiser conversar, e dizer que não vai dar certo, não deve se repetir e é melhor eu desistir, vou sorrir apenas e dizer: só queria saber como era.
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