domingo, 31 de outubro de 2010

Saudade

Está tudo escuro no meu quarto agora
Acendo uma vela e vejo seu retrato
Me sorrindo, com recato.
Me lembro de nós dois, juntos
E então me pergunto:
Por que você teve que ir embora?

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Desejo de Carnaval

Quero carnaval
Sair por aí, fantasiada
Numa alegria total
Completamente embriagada

Quero carnaval
Sorrir, cantar, pular
No bloco não tem mal
Em não saber sambar

Quero carnaval
Quero você que está aí
Tenho desejo carnal
Venha me possuir

Ah, como quero carnaval
Sentir seus braços ao meu redor
Ouvir seu urro gutural
Ah, carnaval... j'addore!

Desequilíbrio

E quando tudo parece estar
perfeitamente em seu lugar
vem você pra bagunçar
E me deixar assim, sem ar.

sábado, 23 de outubro de 2010

Ariel

Vejo borboletas por todo lugar
Você deve pensar que estou louca
Te escuto falar com sua voz rouca:
"Borboletas não sobrevivem no mar"

Eu sei, eu sei, meu amor
Borboletas precisam de ar
Mas, se você deixar,
Quero pedir um favor

É algo assim, nada a ver
Sabe, eu nunca fico com calor
E aqui eu sinto tanta dor
E é por isso que tenho pensado em ser...

Ah, e sobre as borboletas
Bem, elas me fazem perceber
Tudo o que eu quero esquecer

Tem uma grande e preta,
Ela parece mesmo saber
Que eu odeio ficar nessa água gelada e cheia de peixes e tudo o que eu queria era viver aí em cima com você.

Posso?

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Delete

- Tem dias que tudo parece errado. As palavras saem errado. Você diz o que achava que queria dizer mas na verdade não queria, não devia. E mesmo assim, diz. Porque está tudo errado. As peças não encaixam. Tem alguma coisa fora do lugar. E você fica tentando, tentando, e tentando descobrir o que está errado, mas continua errando, errando, e errando. Sabe aquilo de acordar com o pé esquerdo? Às vezes acho que é o mundo que acorda de pé esquerdo, de vez em quando. Tudo dá errado por causa do mundo, não por causa da gente. Podia ser assim, não é? Pôr a culpa nos outros é tão mais fácil... Mas não dá. Tem dia que dá tudo errado, a gente fala tudo errado, e a culpa é toda nossa. Entende? Eu não queria ter dito o que pensei que quisesse dizer, mas acabei dizendo. E agora, o que eu faço?
- Aperta o delete. E começa de novo.
- ...
(apertou o delete)
- Oi, eu só queria dizer que tava com saudade. Só isso mesmo.

sábado, 16 de outubro de 2010

Dias de Poesia

Tem dias que estou mais para a música, noutros estou mais para os livros. Hoje estou para a poesia, mas não sei bem o que isso quer dizer.

Nos dias de música, meus ouvidos só se abrem para lindas melodias e meu único desejo é correr pelos prados da minha imaginação, rodopiando, cantando e dançando os belos sons que tocam dentro de mim.

Nos dias de livros, fico bem quieta em meu quarto, decifrando em silêncio, palavra após palavra, a história do livro que estiver na minha cabeceira. Às vezes leio vários de uma vez só, me esqueço das horas, do almoço, da vida, de tudo. Nem abro a boca que é pra não quebrar o eco das palavras que flutuam no meu pensamento.

Hoje estou mais para a poesia. Nesses dias posso ficar muda ou murmurante; mas hoje estou muda. Nesses dias caminho com certa cautela, passos bem medidos, que é pra não deixar transbordar de uma vez toda a emoção que carrego no peito. Olho pras coisas e elas não parecem as mesmas (porque não são). Faço um carinho no meu gato como se acariciasse o meu amante, e meu coração dispara quando ouço seu ronronar de agradecimento.

Passeio pela casa, busco um alvo para disparar minha inspiração. Se não encontro nada, suspiro. E me contento em deitar-me junto a meus pensamentos, abraçando-os, respirando-os, vivendo-os, amando-os. Para depois esquecê-los quando chamada de volta à vida real. Me sinto uma rainha, atada à sua coroa; quero viver nos meus sonhos, mas não posso deixar de reinar minha vida.

Mas às vezes, escrevo. Hoje escrevi. Amarro com muito cuidado a poesia nas palavras, para não fugirem mais de mim. E mesmo que a realidade me chame de volta para esse mundo que pulsa, corre, e exige demais, sei que não será difícil reencontrar a leveza da poesia nas asas das palavras que escrevo. Porque elas tem asas, as palavras. As minhas tem. E voam para todos os cantos; com poesia, voam ainda mais longe.

E depois de ter voado nas asas de minhas próprias palavras, posso repousar no colo do meu sonho e suspirar, realizada, completa. Poeta.

Adoro os dias de poesia.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Depois

É engraçado! O jeito como o seu cabelo cai por cima dos seus olhos... Quero dizer, caía. Porque agora você não tem mais cabelo, e isso é engraçado. E eu também não tenho mais aquela pinta que você adorava, aquela que eu sempre detestei... E mesmo assim, olho pra você, olho pra mim... E olha só nós dois aqui de novo. Não é engraçado? Eu acho... Quem diria que depois de viagens, filhos, livros, netos, estaríamos os dois aqui, inteiros, nesse mesmo banco - você lembra que foi aqui que você me deu aquela flor quando a gente se conheceu? - nos olhando e rindo, rindo alto!, gargalhando, relembrando nossos momentos, nossas alegrias, nossas triztezas... Ah, eu sabia, eu sempre soube, eu te falei que isso ia acontecer, não falei? Falei sim... Falei que um dia quando nossos rostos desidratassem quase por completo e só restassem rugas em nossas peles frágeis, a gente ia se encontrar de novo, disse sim. E tudo ia ser mais fácil, ia ser mais alegre, mais bonito... É claro que as coisas já não são as mesmas, mas não é isso o que é bom? Pare de me contrariar, você sabe que eu estou certa... Viu, eu sempre estive certa! E nem assim você soube me ouvir... Ah não venha com isso agora, por favor. Não, não vamos falar disso. Estamos bem agora, não estamos? Vivemos nossas vidas, cada um no seu canto, não sofremos. Foi bom assim. Se podia ter sido melhor? Ah, como é que eu vou saber? Meu querido, o que já foi é passado. Não podemos aproveitar o nosso presente? Pelo menos era o que você vivia dizendo... Eu sei. Eu sei... Vamos esquecer isso, por favor... Ah. Você não consegue. Bom, eu também não esqueci o que você me fez. É claro que eu te perdoei, na época. O que mais eu podia fazer, não é mesmo? Mas eu não esqueci. Nunca esqueci. Acho que estamos quites então.
Não sei, de repente as coisas não parecem mais tão bonitas. É, acho que não mudamos tanto assim como eu pensei. Você ainda é o mesmo garoto do cabelo na cara que partiu meu coração e eu ainda sou a garota da pinta que te fez chorar. Acho que as coisas nunca mudam, não é mesmo? É, dessa vez quem estava certo era você. Mesmo depois de tanto tempo... Acho que nunca tivemos uma chance mesmo.
Está ficando tarde. Acho melhor ir embora.
O quê? Se eu ainda gosto de você? Achei que estivesse claro. Ah, mas você sempre foi um bobo, mesmo. Você ainda gosta de mim? Mesmo? Por que não falou antes? Ah, se ainda tivéssemos tempo! Você estaria encrencado por me fazer sofrer dessa maneira! Ora, mas é claro que sofri! Eu sei que só estamos tendo essa conversa há poucos minutos, mas dentro do meu peito já aconteceram as mais diversas revoluções. Você nem imagina. Ah, quer que eu te mostre? Seu bobinho! Vou pensar no seu caso... Olha o que você me faz fazer, seu velho doidinho... Pareço uma maluca falando desse jeito. A gente sempre foi meio maluco, né, nós dois? Ah, que saudade daqueles tempos... Sabe do que eu mais tenho saudade mesmo? Adivinha. Haha, acertou! Do seu cabelo. Era tão lindo...
Ah, como é engraçado. Nós dois aqui, de novo, depois de todo esse tempo. Você podia imaginar que seria assim? É, nem eu.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

de você...

De todos os livros na estante,
de todas as cartas na gaveta,
de todas as fotos do meu álbum,
de todos os poemas do meu caderno...


o livro que me deu eu gosto mais,
a carta que me escreveu eu gosto mais,
a foto sua que tirei eu gosto mais,
os poemas que fiz pra você eu gosto mais...


De tudo o que me deu eu gosto mais,
de tudo que fiz pra você gosto mais.
Tudo o que sobrou ainda me traz,
lembranças que gosto mais.

De todos os amores que amei,
de todos por quem sofri...

Você eu amei mais,
por você sofri demais...


Mas de você, não gosto mais.