terça-feira, 29 de março de 2011

Adormecida

Desperto do sono, mas não do sonho. Diante de meus olhos o devaneio vai se dissipando. Olho pela janela, procurando pelas fadas. Mas elas sumiram. Olho em volta, à procura do príncipe. Ele não veio. Contemplo o mundo de cima da torre. Será que mudou um pouquinho? Será que vale a pena despertar? Me disseram pra só acordar quando príncipes voltassem a resgatar donzelas em perigo e fadas voltassem a realizar desejos e bruxas fossem extintas. Será que é esse o mundo que me espera? Talvez seja melhor voltar ao devaneio. Dormir até o sonho se realizar. ... E nisso já se vão cem anos.

domingo, 27 de março de 2011

Remake sentimental

Saudade do seu jeito
que me deixa sem jeito
esse me olhar e rir
de saber o que estou pensando

Saudade do seu beijo
quase sem defeito
sempre assim, fugaz
nunca sei se estou sonhando

~.~

Penso se você pensa em mim
de que jeito será que lembra de mim

Talvez como a garota que sonha demais
e esquece que viver é mais.

Quarta de Chuvas

E a chuva lavava tudo naquela terça-feira:
Alegrias, tristezas, desejos.
A água abençoava os festejos.
E os beijos.

Na quarta-feira a chuva continuou:
Restos de fantasia escorreram pelas ruas.
Goles de cerveja se perderam sobre as mesas.
E oportunidades se acumularam nos bueiros entupidos.

A Chave

Com muito cuidado pegou a chavinha que carregava pendurada no pescoço, segurou-a forte contra o peito e respirou fundo. Em seguida, afastou um pouco do tecido da blusa e colocou a chave na fechadura, girando-a e abrindo a pequena portinha do seu coração. Cautelosamente foi tirando um a um dos residentes e colocando-as sobre a cama, as miniaturas de todos os seus amores passados.
Arrumou-os em fila por ordem cronológica. Os primeiros eram ainda menores que as outras miniaturas, seus amores de infância que ficaram para sempre crianças em seu coração. Sorriu com afago para os três rapazinhos e os colocou numa pequena caixa quadrada que estava ali perto e trancou à chave.

Depois vieram os amores da adolescência, o primeiro beijo, o primeiro namorado, o primeiro coração partido. Beijou cada um deles na pequena testa e os guardou dentro de outra caixa, um pouco maior que a anterior, em formato de coração, e novamente passou a chave.
E então foi a vez dos pequenos flertes e romances do início da vida adulta. Eram muito mais que apenas três. Passou os olhos por cada um deles, sorrindo e lembrando de cada um deles. Por fim, guardou-os numa caixa grande, redonda. Mas não trancou ainda.

Separou um e ficou olhando-o por longo tempo. Pensando. Se era cedo demais para retirá-lo de seu coração e guardá-los na caixa de lembranças para sempre. Pelo o que ela sabia, ainda era possível um envolvimento entre os dois. Mas será que valia a pena? Será que ela não devia seguir em frente e deixá-lo na velha caixa? Seria um peso a menos em seu coração fatigado. Era algo a se considerar.

Riu de si mesma. Não importava realmente se ela o colocasse na caixa ou não, o lugar daquelezinho em especial ainda estava bem demarcado em seu coração. A falta que ele faria ali seria um constante incômodo, talvez maior que a sua presença. Que não causava tormento, nem alegria, apenas uma adorável sensação de conforto e alívio. Decidiu. Era melhor deixá-lo onde estava.
Trancou a caixa redonda, pegou a miniatura que sobrava e a colocou de volta em seu coração, trancando-o novamente. Sentiu-se bem mais leve. Mas sem a triste sensação de um coração vazio.

Dali a algum tempo, outra miniatura de um amor passaria a ocupar seu coração. E a antiga seria guardada na caixa sem hesitação. Mas só dali a algum tempo.

sexta-feira, 4 de março de 2011

Amores de Carnaval

Pierrôt para Colombina:

Doce menina
dos gestos de fada
do olhar que ilumina
a noite estrelada

Querida bailarina
da beleza aflorada
que dissipa a neblina
com sua voz encantada

Minha Colombina,
não seja malvada
teimosa menina
você é minha amada

Esqueça as palhaçadas
daquele arlequim
Venha reinar, minha fada
no coração do meu jardim

Ass.: Pierrôt

Colombina para Arlequim:

Perto de tudo o que existe,
meu amor nem é tão grande assim
chega a ser pequenino e triste
o sentimento que carrego em mim.


Perto de tudo o que existe,
a solidão nem é tão ruim
porque amar você consiste
em tê-lo bem longe de mim.

Perto de tudo o que existe,
nem parece distante o fim
dessa dor, que persiste,
em matar você em mim.


Mas não pense que existe
para mim outro arlequim
no máximo um pierrôt, que insiste,
em provar seu amor por mim
mas acho que ele desiste
se você voltar pra mim.

Ass.: Colombina

Arlequim para Pierrôt:

Caro Pierrôt,
Não posso mais esconder.
Preciso de você.
Vamos esquecer Colombina,
aquela ingrata menina
e fugir para longe,
além do horizonte.
Você sabe que quer.
Amo você.

Ass.: Arlequim.

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Moral (?): O amor nos tempos modernos é mais difícil que qualquer história de Romeu e Julieta.

Noite fria

A noite clara se fez turva em sua presença
e seu sorriso derramou o pranto
seu olhar espalhou o espanto
e seu toque estremeceu o canto
da moça que trajava o manto.


Ele então pediu licença
e beijou-lhe os lábios brandos
cravou-lhe os dentes brancos
na pele alva, aos solavancos
e ela cedeu aos seus comandos.

(Sangue)

Debaixo da carne tensa,
tremia ela de revolta
e o vampiro à sua escolta
bebia o sangue à sua volta.

A noite, agora tensa,
o viu sumir pela porta.
E o frio que corta,
acolheu a moça morta.

(Exangue)

terça-feira, 1 de março de 2011

Loba II

Bebo o vinho na taça,
derramo seu sangue na praça.

Beijo-lhe os olhos de pavor,
rasgo sua carne com ardor.

E quando te encontro às traças,
choro em seu peito desgraças.

(Acordo com os dentes na caça;
escorrem as lágrimas de terror)

A lua matou meu amor.
A faca cessou minha dor.

Loba

Em noites como essa te amo uma imensidão.
Mas quando a lua se completa, te devoro sem perdão.