sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Sou poeta

Não sou filósofa; há muito que desisti de pensar bem no sentido de cada palavra que brota dos meus dedos quando escrevo. Me cansava. E não parecia natural.
 
Prefiro me pensar como médium: as palavras simplesmente escorrem pelos meus dedos sem que eu tenha total controle delas. Quando vejo já estão lá. E é bem melhor assim. Quase sempre gosto do resultado.
 
Mas me espanto quando me fazem perguntas sobre o que escrevo. Não sei responder. Não sei explicar o que me fez querer dizer determinada coisa. Simplesmente escapou pelos meus dedos de manteiga. Acontece.
 
Os poetas não explicam o que escrevem; simplesmente escrevem. O importante é botar pra fora. Cabe aos outros filosofarem sobre aquelas palavras.
 
Ao poeta, cabe apenas: escrever.

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Rosa com defeito

Às vezes me sinto
como uma rosa com defeito

Com perfume,
mas sem alguém que o sinta

Com belas pétalas,
mas sem alguém que as aprecie

Uma rosa é uma rosa
mas o que é uma rosa no meio de muitas?

Uma rosa com defeito
é uma rosa com defeito

E nisso, pelo menos,
ela se destaca.

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Doce Liberdade

Abro os braços bem esticados

Respiro o ar fresco que sopra no meu rosto

Fecho os olhos e sorrio pro infinito

Pulo de um penhasco e vou caindo

Sem saber

Se vou me ferir

Se vou me salvar

Se vou continuar

caindo

Sem rumo

Sem medo

De me perder

De me encontrar

De procurar

De me machucar

De amar

Num dia mergulho em águas calmas

Noutro me afogo em ondas turbulentas

Sempre uma aventura

Uma novidade

.

.

.

É doce a liberdade.

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Lentes Cor-de-rosa

Eu tenho um problema. Acho que é um defeito de nascença ou uma disfunção adqurida ao longo dos meus 19 anos por influência de livros e filmes. Sou romântica.
 
Isso é doença? Não. É grave? Depende. Meus amigos me repreendem às vezes por ser romântica demais. Ora, demais que o quê? Que o normal permitido, aceito? Não faz muita diferença. Nunca achei que fosse ser apenas uma pessoa normal.
 
Vejo o mundo por lentes cor-de-rosa. Tudo é possível no universo em que vivo. Sou capaz de enxergar romances em praticamente qualquer lugar. Desde um desenho animado esportivo até diálogos de um livro didático de francês.
 
Uma troca de olhares entre estranhos na rua pode virar uma grande história de amor. Um beijo pode fazer duas pessoas se apaixonarem irremediavelmente uma pela outra. Não existem amores incorrespondidos: eles só o são porque um não sabe que o outro o ama; quando ambos sabem, os sentimentos revelam-se mútuos e pode-se escrever um "felizes para sempre" na história deles.
 
Isso tudo são mentiras que conto a mim mesma na esperança de que um dia se tornem reais? Talvez. O que nunca foi idealizado jamais será realizado, é o que eu penso. Que mal faz sonhar? Deixa tudo mais alegre, mais bonito, mais cor-de-rosa... A vida pode ser exatamente do jeito que ela é. Ou ela pode ser assim só que muito mais feliz, se acreditarmos nas surpresas do amor.
 
Por isso sou romântica. Demais, até. Não significa que eu não me desaponte de vez em quando; que eu não sofra com o amor; que às vezes eu acabe me cegando e não enxergando a verdadeira realidade. Mas se fugirmos do amor, nunca saberemos o quão maravilhoso ele é. Por isso estou sempre com os olhos abertos, sempre buscando e identificando possíveis romances.
 
É claro que podemos tentar agir com cautela. Mas é difícil pôr freios nos sentimentos apaixonados. Tão difícil que ainda não sei se aprendi. Ainda me machuco, confundo as coisas... Mas é assim que se aprende, não é? Caindo e levantando em seguida.
 
Porque mesmo com tantos altos e baixos, desilusões, tristezas... Ainda é muito bom acreditar que o amor é possível. Que a vida real pode ser como num filme romântico. Que nós somos personagens das mais lindas histórias de amor. E somos nós que as escrevemos. Todos os dias. Quando encaramos a vida com olhos apaixonados. Por trás de lentes cor-de-rosa.

A-M-O-R

Amor
Quatro letrinhas aleatórias
Que ordenadas dessa forma
Traduzem um sentimento tão bonito, tão feliz
Tão sorrisos e suspiros e sonhos coloridos
Que é até fácil esquecer
Das lágrimas e mágoas
Que por vezes acompanham
Essas letrinhas tão simpáticas

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Ah, se... (suspiro)


Ah se cada suspiro meu por ti
fosse um sorriso teu para mim...

Se os meus devaneios e sonhos
virassem realidade nos teus atos...

Se em vez de estar aqui sozinha
tua presença me fizesse companhia...


Se ao menos estivesse junto a mim...


Mas quem seria?
Aonde estaria?

Minha única certeza
é não saber o nome
daquele que me faria assim
tão feliz...

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Me deixa em paz, coração

Vontade de gritar aquilo que eu não devo dizer
De botar pra fora aquilo que eu não devo sentir
Que se alojou em mim sem pedir licença
Ocupando um espaço que não deveria existir

Sai de mim, sentimento estranho
Obscuro, inquieto e irracional
Você não passa de uma invenção
Uma cria da minha solidão

Coração pulando pra fora de mim
Volta pra dentro, quem te deixou sair?
Fica aí bem quietinho, sozinho
Acredite, é melhor assim

Até que eu volte a me estruturar
Essa coisa de amor, é preciso repensar
Melhor ir devagar

E evitar sonhar
Pra não me machucar
Nem me decepcionar

Quando começo a escrever poemas
É apenas o começo dos meus dilemas...

Quem me mandou ser tão molenga?

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Pecados

Hoje cometi os sete pecados capitais:

- Preguiça: de sair da cama e ir à academia
- Ira: quando não conseguia encontrar nenhuma roupa no armário que fosse confortável e não me fizesse suar no calor
- Vaidade: fui ao shopping e comprei coisas novas
- Gula: comi um sanduíche maior que a minha fome que não permitiu que eu terminasse de comer as batatas fritas
- Avareza: não comi sobremesas apetitosas pra não gastar mais dinheiro
- Inveja: cobicei namorados alheios
- Luxúria: cobicei namorados alheios

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Poderosa

Descobri que tenho um poder. Não é coisa de super-herói, não vou sair por aí salvando o mundo; mas é algo bastante espetacular, modétia à parte.

Eu tenho o poder de criar mundos inteiros, repletos de seres, cores, sons, e recheá-los de histórias, dar-lhes vida. Mas isso eu já sabia que podia fazer. O que descobri é ainda melhor.

Posso transformar o mundo ao meu redor. Já disse, não sou nenhuma Mulher-Maravilha; mas posso salvar o mundo em que vivo de todas as coisas que eu considerar terríveis. Não sou dona de um reality show de extreme makeover; mas posso transformar pessoas ‘apagadas’ em protagonistas ilustres; posso escolher os personagens da minha vida e pintá-los como eu bem quiser.

Posso recriar; reinventar; reutilizar tudo aquilo que já existe, sob uma nova luz, um novo olhar. Posso fazer às coisas à minha própria maneira. Sabe como?

Escrevendo.
"Uma estrela dançava, e sob sua luz nasci."

- William Shakespeare

domingo, 15 de novembro de 2009

Suspiros na Noite

À noite no seu quarto ela ouvia o vento entrar pela janela e observava o movimento das cortinas. O silêncio e a escuridão só faziam lembrá-la de que estava completamente só. Ou quase, descontando seu gato que acabara de pular na beirada da cama com um miado fraco.

Da onde estava na janela via a lua no céu e a rua lá fora, vazia e calma. Suspirava. Era impossível dormir quando a imagem dele surgia ao fechar os olhos. E sonhar com aqueles momentos de felicidade só tornava o ato de acordar ainda pior.

Ouviu um ‘click’ estranho. O gato provavelmente pulara em cima de alguma coisa. E ela percebia agora que tinha sido sobre o botão do aparelho de som, que começara a tocar a música. Aquela que ele tinha composto especialmente para ela. Que ela nunca mais tinha escutado, mas não tivera coragem de jogar fora o CD. E aquela melodia suave agora ecoava pelos cantos sombrios e tristes de seu quarto, ganhando espaço janela afora.

Suspirou pesadamente. Virou-se para desligar a música, mas ouviu algo bater e cair. Procurou o gato, que agora ressonava embolado em sua cama desfeita. Olhou para trás e prendendo a respiração, voltou à janela. Uma pedrinha redonda se encontrava ali. Pegou-a nas mãos e como que se lembrando de algo, olhou para frente.

Parado no meio da rua com as mãos nos bolsos da calça, ele a admirava. Parecia sofrer também. Ela achava que aquilo era apenas mais um truque de sua imaginação e que deveria procurar um médico urgentemente. Até ele chamar seu nome, daquele jeito doce que a fazia derreter-se por dentro. Era real.

Saiu da janela e desceu as escadas aos tropeços. Abriu a porta com desespero e correu para a rua. Tinha sumido. Para onde fora? Ela estava ficando louca? Por que não conseguia parar de chorar? Achava que suas lágrimas haviam secado há muito tempo…

Sentiu os braços fortes e acolhedores ao seu redor e aquele cheiro tão familiar. “Estou aqui.”, falou ele num sussurro que a fez se arrepiar como antigamente, em tempos mais felizes. “Nunca mais me deixe assim”, ela disse, virando-se para olhar novamente dentro daqueles olhos negros que tanto sentira falta. Ele concordou: “Nunca”.

Beijaram-se. E seguiram para a casa abraçados.

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Boa Noite Cinderela

redtrip set 2009 (4)

Tristeza no olhar

Motivos não faltam

Balcão de bar

Goles que matam

Sons partidos

Corpo caído

Cores borradas

Medo de nada

Olhos se fecham

Sonhos começam

Vida mais bela

Boa noite, Cinderela

*Escrita durante palestra da Semana de Comunicação da UFF. A foto é de um copo de vidro iluminado pelas luzes de uma casa de shows e de minha autoria.

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Verão: prós e contras

Contra: o verão se impõe mesmo antes da primavera acabar oficialmente.

Pró: praia, praia, praia, piscina, praia…

Contra: insolação, pele vermelha e ardida, pele descascando…

Pró: ar-condicionado e ventilador ligados o tempo todo

Contra: consumo intenso de energia, políticas de economia de energia

*Quem não tem ar-condicionado: suor, suor, suor…

Pró: as férias estão chegando!

Contra: nem pra todos. Alguns tem aulas até dezembro sob o sol forte…

Pró: chuvas de verão

Contra: elas demoram a acontecer e quando chove é justo no dia que queríamos ir à praia

Contra: surtos de dengue proporcionados pela água da chuva acumulada naqueles lurezinhos estratégicos. Porque no inverno as pessoas sempre esquecem que a dengue existe e deixam de tomar cuidado e aí vem o verão e começa tudo de novo…

 

Mais prós e contras ao longo dos dias quentes…

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

O que fazer num dia de calor


- Ir à praia/piscina ou tomar banho de banheira/mangueira. Nada melhor pra refrescar!


- Tomar sorvete/picolé até dizer chega. Beber muitos líquidos gelados para hidratar.


- Passar o dia no shopping ou qualquer outro lugar agradável com ar-condicionado potente (se você não tiver em casa). Vale até fazer longos passeios de ônibus ou ficar fazendo hora no banco.


- Faltar aula, porque: A. Está quente demais pra sair de casa; B. Você vai chegar todo suado(a) e nojento e lá se foi aquela sensação gostosa pós-banho; C. Se ã sala de aula não tiver ar-condicionado os ventiladores não vão dar conta e ninguém vai conseguir aprender nada porque vai estar pensando no calor e que deveria ter ido à praia.


Só vá à aula num dia muito quente se: A. As salas forem bem refrigeradas; B. O transporte que você usa for bem refrigerado; C. A aula for realmente muito importante. Caso contrário, é melhor ficar em casa e cuidar da sua sanidade mental. É comum ter delírios quando se toma muito sol.


- Ficar deitado(a) no quarto com ar-condicionado/ ventilador ligado, dormindo ou vendo filmes como: A Era do Gelo, A Marcha dos Pinguins, Happy Feet, O Dia Depois de Amanhã… Nada de Inferno de Dante ou qualquer outra coisa com vulcões e muito fogo. O efeito psicológico não será muito bom.


E o que vocês gostam de fazer num dia muito quente? Deixem suas dicas no comentário!

terça-feira, 27 de outubro de 2009

O que fazer num dia de chuva


- Faltar aula (porque você com certeza: A. Vai chegar atrasado por causa do engarrafamento; B. Vai chegar molhado porque o guarda-chuva não deu conta; e C. Vai ficar sozinho na sala porque todo mundo resolveu faltar. Inclusive o professor. Dias de chuva são para ficar em casa!)
- Ficar na cama embaixo do edredom vendo filme, comendo pipoca, chocolate, biscoito...
- Ler um bom livro
- Ficar deitado de janela aberta ouvindo e sentindo o cheiro da chuva
- Fazer aquele dever de casa atrasado
- Ter idéias criativas e colocá-las em prática (escrever um conto, customizar uma roupa, fazer dobraduras de papel, desenhar, e o que mais vier à cabeça.)
- Arrumar o quarto ao som de músicas animadas, dançando e cantando enquanto organiza a bagunça (ou só dançar e cantar, se preferir!)
- Assar um bolo gostoso ou qualquer outra sobremesa (vale receita caseira ou daquelas semi-prontas compradas no supermercado)
- Chamar os amigos e brincar de: mímica, twister, jogos de tabuleiro, baralho...
- Dormir! (porque não há nada mais convidativo para um soninho do que aquele barulhinho na janela e o friozinho dos dias chuvosos)

O que vocês gostam de fazer num dia de chuva? Deixem um comentário com a sua resposta!

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Eternidade


Ela mirava a cidade em sua quietude noturna. Notava o quanto os prédios eram grandes e como as luzes neles pareciam formar um padrão, tornando o conjunto uma apreciável obra de arte. O som da cidade adormecida era tranquilo; um cachorro latindo, uma buzina distante, o rugir de um motor de moto. Silêncio. Nada conseguia ser melhor do que isso. Ou talvez... Sim. Havia um único som que era mais melodioso que o harmônico silêncio madrigal: o som da voz dele, que ela tanto ansiava em ouvir novamente.

Sentada com as pernas cruzadas em cima do sofá branco da sala, com a brisa da noite beijando suavemente seus cabelos, ela não tinha sono. Abraçada ao travesseiro, continuava absorta na imagem da cidade, com o pensamento bem longe daquele mar de prédios. Se ao menos ele estivesse aqui, suspirou. Mas ele estava longe, numa realidade bem diferente da dela, naquele momento, e ela não sabia dizer se ele voltaria - preferia não pensar no assunto.

Tudo acontecera tão rápido... Num momento, faziam cócegas um no outro, rolando na grande cama de lençóis amarfanhados. Num outro, ele saía pela porta com malas na mão, um último olhar e nenhuma palavra.

Era tudo sua culpa, ela sabia, e se amaldiçoava a cada noite que ia deitar sozinha e a cada manhã que acordava sem ele. Por que tinha que ser tão cabeça-dura? Por que tinha que despedaçar e magoar a todos que amava?


Ele olhava para a cidade da varanda do apartamento em que a empresa o instalara. Estava a um oceano de distância dela, mas ainda podia sentir o aroma daqueles cabelos macios em seus dedos. O que dera errado? Pensava que tudo estava perfeito. Ele mudara-se para o apartamento dela, maior e mais confortável. Assistiam à tv comendo pipoca todas as noites e passavam os fins de semana inteiros no quarto, ou na cama ou na banheira da suíte. Não paravam nunca de se amar e descobrir novas coisas um no outro, cada dia era ainda mais excitante, e ele sentia como se ela tivesse sido incorporada na vida dele para sempre. Não podiam ficar separados. No entanto, ele estava ali, sozinho, enquanto ela estava do outro lado do Atlântico, também só. Ambos magoados.

Ele recebera uma irrecusável oferta de emprego fora do país, mas recusara mesmo assim, tudo para não deixá-la. Ela detestou a idéia de privá-lo de seguir sua vida, sabendo que jamais poderia abandonar a sua para acompanhá-lo - jurara para si mesma que nunca permitiria que um homem mudasse sua vida de maneira tão significativa. Discutiram. Disseram coisas que magoaram tanto um quanto o outro.

"Eu largo tudo por você", disse ele.
"Eu não faria tanto", rebateu ela.
"Nós podemos nos adaptar..."
"Nossas vidas são muito diferentes."
"Minha vida é você."
"Por enquanto."
"Pela eternidade!"
"... Nada pode durar para sempre."

Ele viajou naquele mesmo dia e nada mais foi dito entre os dois. Após fechar a porta de seu coração para sempre, ela sentou no chão e chorou, como nunca tinha chorado antes. Ele precisou esperar até entrar no banheiro do avião para poder derramar suas lágrimas de sofrimento.

O tempo passara sem que percebessem de fato. Tudo o que sentiam era a falta um do outro. Ele não se destacava mais no trabalho, ela não criava mais nada. Eram duas almas vazias vagando por um mundo a que não pertenciam. Nada mais fazia sentido.

Ela sonhava que ele chegava no meio da noite, sem fazer barulho, e a acordava com beijos delicados na orelha. Faziam amor e esqueciam toda a briga. Ele pensava constantemente em largar tudo e voltar para ela, mas sabia que seria rejeitado. Tudo tinha que ser sempre do jeito dela, eles só voltariam a ficar juntos se ela quisesse. Como doía esperar que ela mudasse.


Observando a cidade, pintando-a em sua memória, decidiu que não podia mais viver daquela maneira, largada num sofá dia e noite. Sentia-se sufocada pela culpa de ter mandado embora seu grande amor e precisava de ar fresco, precisava respirar. Saiu do apartamento descalça e de pijama, desceu as escadas do prédio e correu para a praia vazia à sua frente, atirando-se na areia branca e úmida, sufocando seus soluços. Mergulhou na água escura, procurando afogar a tristeza, onde em outra época transbordara de alegria junto a ele.


Ele arrumara as malas e pegara o avião, o último vôo da noite, voltando para casa. Seu trabalho fora do país terminara e ele não tinha certeza do que faria. Não sabia se voltava para seu antigo apartamento abandonado às traças ou se batia direto na porta dela. Decidiu se hospedar num hotel, enquanto pensava em suas opções.

Ela acordou na areia, sozinha. A manhã estava clara, mas vinha chuva por aí. Voltou para o apartamento sem dar importância aos olhares que recebia na rua, tomou um longo banho de banheira e resolveu pintar. O mar lhe fizera bem aquela noite, mas ainda tinha muitas feridas para serem fechadas e mais do que nunca ela queria vê-lo, tocá-lo, ajoelhar-se a seus pés e pedir perdão por ter sido tão cruel; mesmo que isso significasse abrir mão de quem era para dar espaço a uma nova versão dela, mais receptiva ao amor e a tudo o que ele implica.

Começou pintando uma imensa escuridão, que logo foi se enchendo de luz e cores, dançando na tela e na sua mente. Pintou também um oceano, cheio de criaturas estranhas, seus medos, e uma luz que atravessava a água negra e lhe dava forças para encará-los. Foi quando a campainha soou, e ela se viu sobressaltada, com o coração pulando e a cabeça cheia de incertezas. Abriu a porta, mas não viu ninguém. Olhou para o chão, e apanhou uma foto. Estremeceu ao ver a imagem; os dois juntos, na praia, sorrindo cúmplices um para o outro, como amantes. No verso da foto, palavras recém escritas. "Venha me encontrar."

Ela sabia o que queria, mas antes de sair correndo porta afora, foi tomada de medo. Sabia que se ele viesse a seu encontro, fingiriam que nada aconteceu e retomariam de onde pararam, sem nada mudar, podendo cometer novamente aqueles mesmos erros. Porém, se ela fosse ao seu encontro, já estaria abrindo mão do passado para começar tudo de novo, do zero, com um belo e longo futuro pela frente. Ela sempre preferira o caminho mais fácil e confortável; já estava na hora de conhecer um pouco do outro lado.

Parado na areia, de frente para o mar, ele segurava o paletó por cima do ombro com uma mão e os sapatos na outra, esperando. Sempre fora muito paciente. Ela parou de correr assim que o avistou, e por um momento, o pânico reapareceu. Mas ela era mais forte, seu amor era mais forte do que sua insegurança. Caminhou em direção a ele, com o vento frio soprando nos seus longos e desleixados cabelos. Ele se virou para contemplá-la no exato momento em que ela parava a dois palmos de distância. Ele olhou aqueles místicos olhos verdes dela, que refletiam a fúria do mar naquela tarde; ela mergulhou na escuridão daquele olhar que ela tanto amava. Por um momento, ficaram apenas fitando um ao outro, as palavras eram insignificantes agora que estavam frente a frente, um turbilhão de emoções passando pelos dois a cada milésimo de segundo.

E então, de forma harmoniosa e sincronizada, os dois beijaram-se, como se estivessem preparando-se para esse momento durante todo o tempo em que ficaram separados. Beijavam-se com amor, extirpando toda a dor que os atormentara durante aquele ano inteiro de separação. Quando voltaram a fitar um ao outro, ela falou:

"Minha vida é você. Sou sua para toda eternidade."

Ele sorriu e acrescentou, contente de constatar que a melodia daquela voz não mudara nem um pouco:

"Pensei que nada durasse para sempre."

Ela baixou o olhar, sentindo uma leve pontada de culpa no coração.

“Isso dura."

E o beijou novamente, enlaçando os dedos naqueles cabelos que ela tanto amava, enquanto ele apertava sua cintura para impedir que ela desaparecesse no ar. Mirando novamente aqueles olhos verdes, ele afirmou:

"Sim, isso dura."

Beijaram-se uma vez mais antes de a chuva cair, lavando-os de todas as tristezas e convidando-os para voltarem ao apartamento, onde uma cama aconchegante os esperava e onde a vida era sempre ensolarada.


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*Originalmente escrito em fevereiro de 2009, por mim.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Observador


Sou um observador. Gosto de estar atento ao momento em que as coisas acontecem. Assisto a vida como a uma peça de teatro: esperando cada fala, cada reação exagerada, analisando o que acontece à minha volta. Quando um ato termina, mal consigo esperar pelo que vem a seguir. A minha vida é ver a vida dos outros.

Uma vez, quando pequeno, vi uma menina chorando, atrás de um muro, no pátio da escola. Fiquei escondido enquanto ela debulhava-se em lágrimas infantis, entretanto silenciosas, afastando as trancinhas louras de vez em quando para esfregar os olhos. Lembro como ela parecia uma boneca de louça com o rosto quebrado: linda, em seu vestido cor-de-rosa, mas incapaz de revelar um sorriso feliz.

Eu quis largar minha bola enlameada e ir até ela, olhar naqueles olhinhos castanhos e úmidos e confortá-la com um sorriso, ou se tivesse mais coragem, até um abraço rápido e tímido. Mas minhas roupas estavam sujas e eu tive medo de que ela ficasse com raiva de mim por estar observado-a.

Anos depois sentamos lado a lado num curto trajeto de ônibus. Ela me reconheceu da escola e comentou que estava de mudança antes de descer no próximo ponto e deixar para sempre a minha vida. Não tive coragem de confessar sobre aquele dia da infância, e ela nunca soube que eu a amava desde então.

Sou um observador. A minha vida é deixar a vida passar.

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*Escrito por mim numa aula de redação no último ano de colégio.

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Dias ventosos


Gosto de dias ventosos. De andar pelas ruas e sentir o ar bagunçar os meus cabelos e resfriar a minha pele. Sempre acontece no meu caminho para a aula de sociologia. Como hoje.

Vou andando sozinha pela estrada de paralelepípedos ladeada de grama verde e cheirosa, escutando músicas em minha cabeça ou mesmo o canto dos passarinhos que passam voando em bandos. Fico tão feliz que sorrio pro céu, por pouco não danço como se estivesse em um musical.

O vento me ajuda a voar.

sábado, 3 de outubro de 2009

Até que a dor passe

Na festa ela ri e conversa, bebe e come, dança e se diverte. Ninguém percebe a umidade em seus olhos quando a música muda. Uma saída estratégica para o banheiro feminino, seca o rosto com papel, retoca a maquiagem e volta pro salão linda e reluzente.

Fim de festa, chega em casa, tira a roupa deita na cama. Chora em silêncio e dorme. Sonha com o passado.

Manhã seguinte, bebe chá, toma banho, se arruma e almoça com a família. Solidão sussurra discretamente em seu ouvido. Um cansaço sem motivo toma conta do seu corpo.

Fim de tarde chega em casa, a casa escura e sozinha. Come chocolate, lê um livro, tenta dormir, não dorme. Liga o computador, procura alento, não encontra. O silêncio só não a consome porque o vizinho escuta música alto demais.


Olha aquela foto esquecida na gaveta, pega papel e caneta e escreve: saudade...

No dia seguinte encontra as amigas, conversa, brinca, ri. Esquece toda a tristeza. O telefone toca: novidade. Todo mal tem sua beleza.

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Mais inspirações

Regina Spektor:
* Better
* Raindrops
* Real love
* Summer in the city
* Somedays
* The Call

Sarah Bareilles:
* Lovesong
* One sweet love
* Gravity
* Red

Jens Lekman:
* And I Remember Every kiss
* Your Arms Around Me
* Into Eternity

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*After Hours - The Velvet Underground
*Lovefool - The Cardigans

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Inspirações musicais

Alguns artistas que tenho escutado muito ultimamente e minhas músicas preferidas do momento:

- Florence and the machine:
*Kiss with a fist
*Cosmic love
*Are you hurting the one you love?
*Howl
*Rabbit Heart

- She&Him (cuja vocalista é a Zoey Deschanel, que também é atriz e apareceu nos filmes "Sim Senhor", "Fim dos Tempos" entre outros):
*Why do you let me stay here?
*I was made for you
*Sentimental heart
*I thought i saw your face today

- Kate Nash:
*Foundations
*Birds
*Mariella
*Merry happy
*Skeleton song

- Katy Perry:
*One of the boys
*Thinking of you
*Fingerprints
*Hot n Cold

- Lily Allen:
*22
*Chinese
*The fear

- Beirut:
*Elephant Gun
*Sunday Smile
*Nantes
*After the Curtain

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*Good time - Brazilian Girls
*Silver lining - Rilo Kiley
*Just do it - Copacabana Club

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Te Procuro - Leela

Finjo ser invisível pra não ter que te encarar
Afogo na piscina pra você me salvar

Tropeço na escada pra você me pegar
Crio mil feitiços pra tentar te conquistar

Eu só quero brincar com você,
Eu só quero brincar com você

Tenho todos que quero
Mas perco o ar
Quando te vejo
Saio com seus vizinhos
Só pra você me notar

Tropeço na escada pra você me pegar
Crio mil feitiços pra tentar te conquistar

Eu só quero brincar com você,
Eu só quero brincar com você
Eu só quero, quero brincar com você
Eu só quero brincar com você

Não me despreze, eu sou pior que você
Não tenha medo, eu só quero brincar

Só quero brincar

“Eu só quero brincar com você”. Era o que ela me dizia sempre que me pegava olhando-a daquele jeito. Atordoado. Assustado. E meio apaixonado.

Ela era uma criança e eu também. Eu implicava com ela e vice-versa. Às vezes me deixava muito nervoso, mais nervoso ainda quando começava a rir daquele jeito, sempre que eu caía em uma de suas armadilhas. E dizia com aquele jeitinho nada inocente de quem pede desculpas já pensando em pedir desculpas novamente: “Eu só quero brincar com você”. “É eu sei”, eu dizia. E continuava brincando, deixando que ela brincasse com meus sentimentos, sem perceber que caía na maior de suas armadilhas:

Ela conseguiu roubar meu coração sem nenhuma chance de devolver.

Sorte minha que também roubei o dela.

Ficamos quites.

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*Me inspirei na música "Te Procuro", do Leela.

terça-feira, 1 de setembro de 2009

One and Only - Teitur

I've been wishing on a star but I could never have imagined
I would land just where you are after all this lonesome traveling
I took one look in your eye, reached out to hold your hand
This is when I realized that I could never understand

Do you want to be my one and only love?
Do you want to be my one and only love?

So you wanna be my friend, so you wanna be my lover
Oh, With you I do confess I can't be one without the other
That was hard for me to say, I hope I said it right
Which ever, come what may, you see I need to know tonight

Do you want to be my one and only love?
Do you want to be my one and only love?

Do you want to play these cards, do you want to lay 'em down?
Do you want to run away or do you want to stick around?

Do you want to be my one and only love?
Do you want to be my one and only love?

(Música do filme Acquamarine - Porque eu não tenho nada melhor pra fazer a não ser assistir a filmes e escutar músicas e sonhar com bobagens de amor... Espero escrever uma historinha bonitinha e postar aqui em breve.)

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Do Mundo

Não quero mais o "felizes para sempre";
Quero a incerteza do futuro e a felicidade no presente.

Cansei de suspirar por perder grandes chances;
Quero viver o momento, curtir vários lances.

Quero fazer da praia o meu lugar,
Acordar com vontade de cantar.

E ter a certeza de não ter certeza nenhuma:
Só que a vida é só uma.

Meu coração vou libertar;
Vou abrir as asas e voar!

Não sou mais uma menina sem rumo;
Sou mulher, sou do mundo!

domingo, 16 de agosto de 2009

Tristeza

A garganta fecha; busco desesperadamente por um pouco de ar.

Respiro, mas a cada expiração o vazio em meu peito aumenta, e percebo que não é só de ar que eu preciso.

Meus olhos ardem e ameaçam chorar, aumentando o nó na garganta que eu não consigo engolir.

Olho à minha volta e vejo que nada faz sentido. Fotos, livros, canetas, papéis, cabos, fios, tomadas, paredes. O quarto parece pequeno demais, estranho demais, alheio demais; sufoco.

E choro. E sofro. E me odeio pelas coisas que fiz. Pelas coisas que disse. E as que não disse.

Uma nuvem de problemas paira em torno da minha cabeça, pesando mais e mais a cada lágrima, a cada suspiro, a cada arfar por um pouco de paz.

Tento escapar da melancolia do silêncio e ponho o fone de ouvidos; deixo as músicas tocarem aleatoriamente. Irônico como as mais tristes chegam aos meus ouvidos, tornando impossível que eu me esqueça de tudo.

Aprecio as melodias que fazem brotar lágrimas de meus olhos e me concentro em me esquecer de mim; talvez seja mais fácil esquecer os problemas se eu conseguir esquecer a fonte deles.

Fecho os olhos e me transporto para outro mundo. Tento lembrar como é sorrir e ser feliz.

Mas algo sempre me traz de volta à realidade.

E tenho que começar tudo de novo.

Por alguns segundos de tranquilidade.

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Brighter than sunshine - Aqualung

I never understood before
I never knew what love was for
My heart was broke, my head was sore
What a feeling

Tied up in ancient history
I didn't believe in destiny
I look up you're standing next to me
What a feeling

What a feeling in my soul
Love burns brighter than sunshine
Brighter than sunshine
Let the rain fall, i don't care
I'm yours and suddenly you're mine
Suddenly you're mine and it's brighter than sunshine

I never saw it happening
I'd given up and given in
I just couldn't take the hurt again
What a feeling

I didn't have the strength to fight
suddenly you seemed so right
Me and you
What a feeling

What a feeling in my soul
Love burns brighter than sunshine
It's brighter than sunshine
Let the rain fall, I don't care
I'm yours and suddenly you're mine
Suddenly you're mine

It's brighter than the sun
It's brighter than the sun
It's brighter than the sun, sun, shine.

Love will remain a mystery
But give me your hand and you will see
Your heart is keeping time with me

What a feeling in my soul
Love burns brighter than sunshine
It's brighter than sunshine
Let the rain fall, I don't care
I'm yours and suddenly you're mine
Suddenly you're mine

And then you kissed me (1) - The Cardigans

man, I've had a few
but they wouldn't quite blow me like you
you gave me your name and signed
with a halo around my eye

and it hit me like never before
that love is a powerful force
yes, it struck me that love is a sport
so I pushed you a little bit more

(...)

man, you hit me!
yeah, you hit me really hard
baby you hit me!
yeah, you punched me right in the heart

and then you kissed me...
Madrugada musical.

Sutilmente - Skank

E quando eu estiver
Triste
Simplesmente
Me abrace
E quando eu estiver
Louco
Subitamente
Se afaste
E quando eu estiver
Fogo
Suavemente
Se encaixe...

E quando eu estiver
Triste
Simplesmente
Me abrace
E quando eu estiver
Louco
Subitamente
Se afaste
E quando eu estiver
Bobo
Sutilmente
Disfarce...

Mas quando eu estiver
Morto
Suplico que não me mate não
Dentro de ti
Dentro de ti...

Mesmo que o mundo
Acabe enfim
Dentro de tudo
Que cabe em ti (2x)

Lost - Katy Perry

I'm out on my own again
Face down in the porcelain
Feeling so high but looking so low
Party favors on the floor
Group of girls banging on the door
So many new fair-weather friends ooo...

Have you ever been so lost
Known the way and still so lost

Caught in the eye of a hurricane
Slowly waving goodbye like a pageant parade
So sick of this town pulling me down
My mother says I should come back home but
Can't find the way cause the way is gone
So if I pray am I just sending words into outer space

Have you ever been so lost
Known the way and still so lost
Another night waiting for someone to take me home
Have you ever been so lost

Is there a lightIs there a light
At the end of the roadI'm pushing everyone away
‘Cause I can't feel this anymore
Can't feel this anymore

Have you ever been so lost
Known the way and still so lost
Another night waiting for someone to take me home
Have you ever been so lost
Have you ever been so LOST.

terça-feira, 21 de julho de 2009

Palavras no papel

Eu penso as palavras um montão de vezes na minha cabeça, repetindo-as em diferentes entonações. Mas elas perdem inteiramente o sentido quando as escrevo no papel.

Poesia falada na minha mente significa bem mais do que palavras escolhidas e dispostas num caderno de forma tradicional.

Acho que não sei escrever poesia, só sei pensá-la, senti-la. Respirá-la em toda parte.

A poesia perde um pouco do sentido quando ganha forma em palavras. Deixa de ser abstrata borboleta voando pelo ar e se prende num plano bidimensional de onde só se liberta por uns instantes ao ser lida em voz alta numa entonação ritmada.

Poesia é música.

Um turbilhão de pensamentos narrados em palavras invade minha mente todas as noites quando fecho os olhos. Talvez o silêncio seja tão incômodo que eu precise encher de som a minha cabeça. E minha voz sempre soa mais bela do que na verdade é dentro dela.

Eu penso com mais rapidez do que consigo escrever e às vezes alguns pensamentos acabam se perdendo.

De repente um vazio domina minha mente e sinto que o momento criativo passou. Posso dormir tranquila. E quem sabe, sonhar sem palavras.

quarta-feira, 24 de junho de 2009

Distrações

Eu já falei nesse blog sobre agir por impulso, dar atenção às pequenas coisas da vida, observar o vento nas árvores... Ultimamente tenho feito muito disso tudo. Tudo o que vejo ganha um novo significado para mim e isso me faz muito bem. Respirar todos os aspectos da vida e da natureza me faz sentir leve e feliz. Minha sensorialidade está mais aguçada, graças também às minhas aulas de Teoria da Percepção na faculdade e o trabalho fotográfico que tenho feito para essa disciplina. Não ando mais sem tirar fotos de qualquer coisa que me encante.

Mas talvez eu esteja exagerando. Acho que meus olhos estão abertos demais, chegando até a me cegar para os aspectos práticos do dia-a-dia, me fazendo mais distraída do que já sou por natureza. E as distrações nem sempre fazem bem.

Por exemplo, ontem eu estava descendo uma escada, quando reparei num mosquitinho preto ínfimo na parede branca e larga. Não gosto de insetos, muito menos mosquitos, mas senti algo que não tive tempo de assimilar por aquele mosquitinho pequenininho e sozinho naquela parede. Quando dei por mim já estava caída no chão, com o pé torcido.
Aos que vivem no mundo da lua como eu e se distraem facilmente, cuidado. Acidentes acontecem mais facilmente do que imaginamos.

domingo, 7 de junho de 2009

Beijo

Palavras ofensivas, gestos raivosos, rostos contorcidos de ódio. Uma confusão de sons, imagens e significados: lembranças de um passado querendo ser esquecido. Dois estranhos que um dia se cruzaram e tudo o que queriam agora era seguir caminhos opostos. Relâmpagos iluminavam o céu escuro e pesado.

Por um momento eles pararam de falar e mergulharam nos olhos um do outro; as palavras haviam se esgotado; não havia mais ofensas, acusações, gritos nem lágrimas. Só o silêncio da noite podia ser ouvido enquanto eles continuavam lutando com o olhar. O dele, duro e frio, o dela, ardente e impassível. Depois de tantos anos, o que restara deles de fato? Nem um pedido de desculpas. Nenhuma palavra calorosa. E assim, pra sempre?

A chuva caiu, e eles não se moveram: olho no olho o tempo todo. Um raio cortou o céu. Ela tremeu de frio. Ele deu um passo à frente. Um trovão, e duas bocas uniram-se sem começo nem fim. E todas as palavras perderam significado. E toda a tristeza e todo o ódio foram lavados pela chuva. Logo tudo o que sobrara era o que realmente tinha importância: beijos, paixão, amor. Por detrás de uma nuvem, a lua surgiu, iluminando o sorriso no rosto dela, que refletia a felicidade nos olhos dele.

Mãos dadas, pé na estrada: um novo caminho a seguir.

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Músicas:
- And then you kissed me - The Cardigans
- An then you kissed me II - The Cardigans

domingo, 31 de maio de 2009

Domingos são muuuuuuito deprimentes.
Não está chovendo. Mas sinto que há uma grande nuvem negra pairando sobre a minha cabeça. E eu estou aqui, esperando. Esperando que algo bom aconteça. Esperando que algo venha me tirar do poço de tédio em que caí.
Por favor, comece a chover.

terça-feira, 12 de maio de 2009

Tudo girando
E eu aqui pensando
Aonde devo estar?
Qual é o meu lugar?

Tantas escolhas
Paradigmas de uma história
Do calendário voam as folhas
Uma vida que perde a memória

Vou sendo esquecida
Vou ficando deprimida
No tempo, perdida.
Pra onde foi minha vida?

Tudo acabou.
Terminou.
Esgotou.
Nada restou.

Acho que desapareci.

segunda-feira, 4 de maio de 2009

Sonho louco

Eu sonho. Bastante. Quase sempre acordada. Mas também sonho dormindo; e esses sonhos são sempre no mínimo interessantes.

Meu último sonho foi como um filme. Ou eu sonhei que via um filme. Não importa: o que interessa é que não consigo tirá-lo da minha cabeça. Portanto, aqui vai ele.

Os protagonistas do filme (do sonho) eram Angelina Jolie (com cabelos curtos e olhar doce, mais ou menos como em Amor Sem fronteiras) e Steve Carell (barbudo e sério, como em Pequena Miss Sunshine). Na história que montei em minha cabeça, os dois eram muito bem-sucedidos em suas carreiras (não lembro, acho que não tem muita importância) e cresceram num vilarejo peculiar, meio mágico, meio secreto. Quando adultos, eles se encontram numa praia deserta de areia branca e águas azuis límpidas e calmas, ambos usando roupas brancas, e tem uma aplísia dançando na barriga do Steve Carell deitado na areia.

Eles então se apaixonam e decidem casar e constiuir família, no vilarejo onde cresceram, e que acreditam ser o melhor lugar para terem uma vida perfeita e serem felizes para sempre. Com isso, os dois abandonam suas carreiras bem-sucedidas e vão morar numa casinha aconchegante. Eles tem um filho, Steve Carell Junior, e não fazem muita coisa da vida; Angelina Jolie passa os dias tricotando em uma cadeira de balanço e Steve Carell Pai trabalha num asilo de idosos. O casal acaba descobrindo que não é feliz dessa maneira, e nem o filho, motivo de terem abanonado suas antigas vidas, gosta do lugar, porque não tem amigos e os garotos da escola caçoam dele.

Após conversarem, a família decide voltar para o mundo real, para a vida que tinham antes, mas ficam feizes de terem experienciado esse outro tipo de vida, só pra ter certeza de que não era o que eles desejavam. Fim.

Agora, o motivo da minha fixação é que eu tenho certeza de que já vi uma história parecida em algum filme. Qual??? Talvez seja uma mistura de Um Homem de Família, Os Incríveis, Sr. e Sra. Smith, e mais um monte de filmes que não consigo lembrar agora, e aqueles dois que falei no último post. Se uma alma viva que visita este blog puder sugerir alguma coisa, eu agradeço.

P.s: Deu pra ver que na minha cabeça se misturam um mooooonte de coisas...

domingo, 3 de maio de 2009

O Amor e suas complexidades

O Amor sempre me causou um rebuliço - não tenho palavra melhor pra descrever: um misto de encanto, curiosidade, espanto. E inquietação. Desde pequena vivo no mundo da lua e acredito em contos de fada. Ora, por que não? A vida é tão mais bonita e simples vista por lentes cor-de-rosa...

Enfim. Mesmo crescida - como se 18 anos fossem experiência suficiente... - e um pouco entendida da vida, sempre me surpreendo quando me deparo com situações amorosas que não seguem a receita do "felizes-para-sempre". Como é possível pessoas que se completam não ficarem juntas pela eternidade? Por que para uns o Amor é bonito e suficiente, enquanto que para outras, é indesejado e mal-administrado? Como saber se há uma pessoa certa para cada um de nós, e se vamos encontrar essa pessoa? O Amor pode ser garantia de felicidade plena?

Sempre vivi esperando encontrar o Amor em cada esquina que eu virasse, em cada olhar de um ilustre desconhecido, em todo lugar que eu me encontrasse. E acho que encontrei. Mas agora chego a pensar que o que eu procurava ávidamente não era Amor, e sim Paixão. Afinal, não existe amor à primeira vista, e sim paixão à primeira vista, diz a psicanálise. Cientistas dizem que paixão é química e tem prazo de validade: quatro anos, em média, e depois pode ou não evoluir para amor. Admitamos então que um casal esteja apaixonado, passem-se quatro anos e eles então separem-se. Toda a magia, os beijos, abraços, carinhos, promessas e planos, tudo desaparece. Será que Paixão é sinônimo de Ilusão?

E se alguém finalmente encontra o amor mais puro e belo, a pessoa perfeita para esse alguém, e simplesmente... deixa passar? Como é possível ser feliz sabendo que teve a oportunidade de viver o Grande Amor, mas não aproveitou? (Talvez aqui eu esteja indo contra o que disse antes sobre as escolhas.)

Às vezes os maiores amores são aqueles que aconteceram em um curto espaço de tempo e duraram muito pouco, como em Romeu e Julieta, ou que esperaram uma eternidade para serem vividos, como em O Amor Nos Tempos do Cólera. Mas e aqueles em que os casais se separam ao invés de morrerem juntos ou se encontrarem no fim da vida?

Por mais que eu queira, acho que nunca vou compreender essa grande força magnética, hipnótica e maravilhosa que é o Amor. Talvez ninguém possa. E esse seja um dos grandes mistérios que fazem a vida valer a pena. Acho que eu devia me preocupar mais em viver o Amor do que em tentar compreendê-lo.

Hum. Talvez os contos de fada sejam mesmo reais; só precisamos parar de idealizá-los e começar a realizá-los.

*Filmes inspiradores:
- Apenas Uma Vez (Once)
- Ao Entardecer (Evening)

Erros x Escolhas

Erros não existem. Às vezes achamos que tomamos decisões erradas no passado, que perdemos uma grande oportunidade de ser feliz; costumamos pensar: “E se tivesse sido diferente?”, fantasiando histórias que jamais poderiam ter acontecido, só pela incômoda insatisfação de nunca saber o que o futuro nos reserva. Tão estranho como imediatamente jogamos fora tudo o que vivemos só pelo vislumbre de algo tão incerto quanto o que escolhemos primeiro! Não existe isso de escolha certa ou errada, de decisão boa our ruim; tudo o que existe são apenas escolhas.

Podemos escolher ter o cabelo curto ou comprido; usar maiô ao invés de biquini; optar por uma carreira clássica ou preferir a vida artística; ter uma vida regrada ou simplesmente nunca olhar para o relógio. Escolhemos ser felizes para sempre com um marido, filhos e uma casa com jardim, ou simplesmente ser feliz sozinha, ter animais de estimação comocompanhia e sair todas as noites com amigos.

Mas nunca podemos dizer que as escolhas que fazemos são “ruins” ou “boas”, que “tudo teria sido melhor se tivesse sido de outra maneira”. Porque se fosse diferente, não seríamos nós. As escolhas que fizemos no passado constroem as pessoas que somos no presente, e as escolhas que fazemos no presente refletem em quem seremos no futuro. A vida é feita de escolhas. Se pudéssemos refazer todas as escolhas do passado, nossas vidas não seríam as mesmas. As coisas boas que nos aconteceram por causa das escolhas ditas “erradas” não existiriam. E continuaríamos insatisfeitos, desejando poder mudar tudo novamente.

Essa é a verdadeira beleza da vida: saber que não se pode voltar atrás, mas que sempre é possível seguir em frente, na direção que preferirmos. Talvez você opte por um corte de cabelo muito curto e não fique contente com isso; mas com o tempo o cabelo crescerá, e voltará a ser como antes, e talvez você até o corte novamente, de outro jeito. No entanto, se não tivesse cortado o cabelo, jamais saberia sua reação.

Assim, nunca sabemos o que nos aguarda no fim do arco-íris; mas certamente, entre penhascos brumosos e vales ensolarados, sempre conseguimos encontrar a felicidade. Sejam quais forem nossas escolhas.

*Filme inspirador:
- Ao Entardecer (Evening)

domingo, 26 de abril de 2009

Noite.
Calma.
Calma?
Sons.
Não: barulhos.
Murmúrios.
Agitos.
Infortúnios.
Sussurros.
Silêncio!
Sono...
BARULHO!
Irritação.
Impaciência.
Tempo.
Muito tempo.
Sons, sono, sonhos...
Dormindo.
Noite.
Calma.
Silenciosa.
ZzZzZzZzZz...

Reflexões sobre o barulho

A noite me traz uma sensação boa. Não sou uma pessoa noturna, no sentido de sair para me divertir quando tudo está escuro; sempre prefiro ficar em casa e aproveitar o silêncio, a sonolência, e o turbilhão de idéias que me acomete.

Não gosto de barulho, festa só se for de aniversário, e mesmo assim tem vezes que não suporto.

Gosto de dançar, mas sozinha no meu quarto, boate lotada nem pensar. Show eu nunca fui, só quando criança, algo que nem considero, e música muito alta me dá nos nervos.

Porém, quando se vive num apartamento de fundos em que a janela do seu quarto dá para uma quadra esportiva de escola pública, um salão de festas de um prédio grande e a janela do cara do outro bloco do seu prédio, acostuma-se com barulhos que não deviam fazer parte da sua vida.

Como por exemplo, o som de talheres revirados no apartamento em frente e abaixo ou o farfalhar de uma papel laminado; alguém cantando mal ou falando ao telefone na janela ao lado; uma festa tipo micareta que rola a madrugada inteira (eu detesto músicas de micareta) ou a banda da escola pública ensaiando na quadra a mesma música de todos os anos desde que você se mudou para esse bendito lugar (nove anos); um carro buzinando alucinadamente. Às vezes nem é um som, mas um cheiro de bife da-casa-dos-outros ou então o inebriante aroma de pipoca (e aí você morre de raiva porque não tem pipoca em casa pra você). Coisas assim.

E aí você se dá conta de que a noite, a madrugada, mudou coompletamente de sentido. Você percebe que toda aquela comunhão de sons e (cheiros) fazem, de fato, parte da sua vida. E quando você os ouve, sente-se bem; sente-se em casa. E todas essas coisas que te atrapalhavam antes em suas reflexões, passam a ser a inspiração para elas.

quarta-feira, 1 de abril de 2009

A madrugada é um momento interessante. É quando brotam em mim milhares de idéias para escrever, e mesmo que eu esteja com sono e deixe pra continuar no dia seguinte, nunca abandono essas idéias, diferentemente do que acontece quando começo a escrever em outro momento do dia. Estou me tornando uma escritora notívaga.

quinta-feira, 5 de março de 2009

Pesadelo

Ela dormia enquanto seus sonhos derretiam no calor do quarto fechado. Um homem. Uma mulher. E destinos opostos. Quanto mais lutavam para tocarem um no outro, mais se afogavam nas profundezas das águas escuras do desconhecido. Iam se afastando, se afastando, até não se enxergarem mais, até não se conhecerem mais; até esquecerem que se amavam.

Ela acordou, suando e ofegando no meio da noite quente de verão, e olhou ao redor. Aonde estavam os sonhos desfeitos e castelos desmoronados? Ouviu um ressonar familiar ao seu lado e pôde respirar novamente; ele estava ali, ao seu lado, sorrindo para ela enquanto dormia.

Fora uma ilusão. Tudo não passara de um pesadelo. Pelo menos, por enquanto.


~.~.~.~.~
Apenas uma pequena parcela do universo paralelo que existe em minha mente, manifestado espontaneamente durante uma quente madrugada de verão.

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Cuidado: inflamável

Sou uma pessoa altamente inflamável. Uma palavra errada na hora errada e eu explodo de irritação e brigo com todo mundo à minha volta. E o mais estranho é que, apenas um minuto depois, me acalmo, volto aos meus eixos, e nem sei explicar por quê fiquei nervosa. E, quando penso bem no assunto, me envergonho por ter agido de forma tão desequilibrada. É só comigo que acontece isso?

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Impulsos e formigas

Muitas vezes sinto que deveria agir mais por impulso. Me permitir fazer coisas banais como molhar os pés na água do mar numa caminhada noturna ou acordar no meio da noite só para contemplar a lua. Às vezes, a realização ou não dos desejos mais banais são os que definem a personalidade de cada um.

É importante agir por impulso, pelo menos de vez em quando, para não esquecer a magia das simples coisas da vida.
Algo que acabei de me lembrar.
Noutro dia, em Volta Redonda, a caminho do salão de beleza para encontrar minha avó, passando por um belo jardim, me deparei com uma trilha de formigas carregando folhinhas. Se estivesse acompanhada, nem teria reparado, mas estava sozinha, e sorri comigo mesma. Andei mais devagar no meu caminho, procurando a origem daquela trilha, e fiquei surpresa ao ver o quanto era longa. Me permiti ficar parada alguns segundos observando aquelas formigas apressadas em meio ao clima instável e depois me despedi, reparando nas flores, nas árvores e tudo o mais ao meu redor.

Hoje eu agi por impulso, iniciando um blog por conta própria que já estava ensaiado há muito tempo mas que ainda não tinha tido a coragem de criar. Espero que os impulsos me guiem mais daqui pra frente. A vida é bem mais bonita assim.

Censura

Hoje, mais do que nunca, tive vontade de entrar no mar. A água escura estava irresistivelmente convidativa sob a noite fresca de verão. Reparei nas ondas calmas alcançando a areia branca e vazia e quis sair correndo naquela vastidão, molhando os pés na água fria e espirrando-a para todo lado, depois mergulhando e apreciando a poesia do mar.

Mas não fiz nada disso. Continuei fitando a praia tristemente, impedida de fazer o que desejava por causa de minha censura pessoal, que me condenaria se voltasse para casa com os pés molhados e cheios de areia. Abandonamos o calçadão conversando, eu e papai, enquanto voltávamos para o apartamento, onde a vista do mar é ofuscada pela quantidade de prédios ao redor.

Pisando em ovos

Não sei bem como começar. Nunca pensei em tornar públicas as palavras que guardo para meus diários, mas resolvi tentar. Afinal, o que não mata engorda, e nãoestou preocupada com uns quilinhos a mais.

Este blog não pretende ser nada instrutivo ou informativo, nem espero que alguém realmente leia o que quer que seja que eu venha a escrever.

Meu verdadeiro intuito aqui é perder o medo de expor meus pensamentos e devaneios, bem como garantir que eles não se percam no turbilhão de minha mente.
É só. Por enquanto.