sexta-feira, 26 de março de 2010

Happy Ends

Não preciso dizer o quanto sou romântica. Grande parte dos textos deste blog já afirmam isso por mim.
 
O que tenho a dizer hoje não é nada especial, mas algo em que venho pensando a partir de algumas conversas que tive com um amigo. Sempre fui fã dos finais felizes, "happy ends", nos filmes, livros, na vida. Mas começo a pensar diferente agora.
 
Segundo o que aprendi ontem na aula de Linguística, sobre análise de discurso e nível narrativo (não ouso fazer longas explicações pra não correr o risco de dizer besteiras, não sou nenhuma perita), existe sempre um Sujeito (uma pessoa) que busca um Objeto-Valor (meta). No meio de sua busca o Sujeito encontra Anti-sujeitos (obstáculos) e algumas vezes, encontra também um Adjuvante (algo/alguém que ajuda o Sujeito a superar os obstáculos). Traduzindo: pessoas tem metas, mas para realizar essas metas, elas sempre vão encontrar problemas no meio do caminho. Depois que enfrentam os problemas, alcançam a meta. E aí a narrativa acaba. Seria uma espécie de final feliz.
 
Esse esquema funciona para narrativas como contos de fada e novelas, em que as histórias que nos são mostradas são apenas recortes do que poderia ser a realidade. Na prática, o final feliz não existe. Ou melhor, deixa de existir assim que se alcança o objetivo. Porque aí passamos a traçar novas metas e a arranjar novos problemas para resolver até alcançá-las. E o ciclo nunca termina. Porque se não temos objetivos na vida, somos pessoas sem problemas, e pessoas sem problemas são deprimidas e cometem suicídio.
 
Ok, agora deixando o drama e a Linguística de lado: o que eu realmente quero dizer com tudo isso... É que não acredito mais em finais felizes. Porque o final feliz significa o fim da vida; não uma morte propriamente dita, mas o fim dos acontecimentos. E uma vida vazia de acontecimentos é uma vida morta, não é vida, é anti-vida. Seria como parar de escrever um livro na metade, deixando as outras páginas todas em branco.
 
A morte é o fim da vida, e não é um fim feliz (via de regra). Por isso não podem existir finais felizes. Será que estou fazendo sentido? Será que toda essa filosofia está chegando a algum lugar?
 
Por fim apresento minha mais nova crença. Deixei de acreditar em finais felizes pra acreditar em começos felizes. Porque depois de cada fim, sempre vem um novo começo. E nesse caso o fim não precisa necessariamente ser bom ou ruim. Ele dá espaço para o começo de algo novo, diferente, uma nova meta, com novas etapas e novos problemas. E se o começo for feliz, ainda que sofrido (porque os problemas sempre existirão para nos atrapalhar), não tem como a história toda não ser feliz também.
 
O importante mesmo não é como uma história termina, e sim como ela começa e continua. Porque se for boa mesmo, não acaba nunca.

quarta-feira, 24 de março de 2010

Veja, você

sabe muito bem
que não há ninguém
assim como você

Que me lê
tão completamente
e finge não entender

o que eu realmente
sinto, penso, escrevo
você sabe, não quer ver

ou será que não
sabe ou tem medo
de perceber?

Seja como for
estou aqui
a seu dispor

para longas conversas sobre o clima
ou caminhadas sob um mesmo guarda-chuva.

domingo, 21 de março de 2010

Casal Apaixonado

- E então, você vem sempre aqui?
Ela riu, ou sorriu, baixando os olhos.
Ele riu. Ela ergueu os olhos, corada.
Ele passou o braço por cima do ombro dela e seguiram caminhando pelo jardim, como faziam todos os dias desde que se conheceram, há 30 anos atrás.

quarta-feira, 17 de março de 2010

Essa chuva


Essa chuva que cai lá fora
não é a mesma de ontem
não é a mesma de tantas outras vezes
não é a mesma que me faz cantar

Essa chuva que cai lá fora
não é a mesma daquele dia
daquele dia que você me viu
toda ensopada, e sorriu

Essa chuva que cai lá fora
não é aquela que aproximou
nós dois naquele dia frio
sob um mesmo guarda-chuva

Essa chuva que cai lá fora
só acompanha o meu suspirar
por estar sequinha aqui dentro
e não com você, lá fora

segunda-feira, 15 de março de 2010

Certas coisas nunca mudam

As férias inteiras esperou pelo reinício das aulas. Seu coraçãozinho infantil não aguentava mais de tanta palpitação. É hoje!, É hoje!, cantava pra si mesma, escondendo o riso com a boca, as bochechas coradas só de pensar. É que a pequena Isa já não aguentava mais ficar longe do Marcelinho, o garoto mais bonitinho da escola...
Naquele dia acordou cedo, tomou um banho, arrumou os cabelos, colocou brincos, pulseiras e anéis, pra dar um charme no uniforme sem graça do colégio. Enfeitou-se toda sentindo-se muito mais velha. Afinal, agora já estava na quinta-série. Já era quase uma moça!, pensava Isa.
Chegou na sala de aula bem no horário, sem atraso, a professora até elogiou. Escolheu o melhor lugar, bem lá na frente, bem perto da porta, onde o Marcelinho certamente a notaria assim que chegasse. Isa estava ansiosa.
As outras crianças foram chegando e se instalando. Isa aguardava pacientemente, folheando os novos cadernos que escolhera com a mãe semanas antes. A qualquer momento ele ia chegar. Ele ia chegar e passar por ela, bem ao seu lado. Ele ia chegar, cumprimentar a professora - como o menino bem-educado que era - se dirigir ao seu lugar, passar por Isa e ela ia sorrir. Sim, ele ia passar por ela e ela iria sorrir. Iria sorrir para ele. Sorriria e diria, Oi, Marcelinho. Bem assim, um sorriso e um Oi, Marcelinho.
Isa estava escrevendo seu nome bem caprichado com caneta colorida na primeira folha de um dos cadernos quando Marcelinho chegou na sala. Ele chegou, cumprimentou a professora, passou por ela. Chegou e passou por Isa. Passou por Isa e ela não disse nada. Passou por ela e Isa não sorriu. Marcelinho chegou, passou e Isa não sorriu, não disse seu Oi, Marcelinho. Isa ficou muda, mal tirou os olhos do caderno, só viu as pernas de Marcelinho passarem ao seu lado e se encaminharem para uma carteira algumas filas atrás dela. Marcelinho passou por ela e ela nem olhou, nem sorriu, nem disse Oi, Marcelinho.
Isa ficou tímida! Não conseguiu olhar, não conseguiu sorrir, muito menos dizer, Oi, Marcelinho.!
Isa ficou triste pelo resto do dia.
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Isabela cresceu, ficou mais madura, mais segura. Mas ainda ficava muda toda vez que um Marcelo ou Bernardo passava por ela. Ela queria sorrir e não conseguia. Queria dizer oi e nada saía.
Certas coisas nunca mudam.

domingo, 14 de março de 2010

All I know is that you're so nice
You're the nicest thing I've seen

(...)

I wish I was your favorite girl
I wish you thought I was the reason you are in the world
I wish my smile was your favorite kind of smile

(...)

I wish you'd hold my hand when I was upset
I wish you'd never forget the look on my face when we first met

(...)

Basically, I wish that you loved me

(...)

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*Trechos da música Nicest Thing da Kate Nash

Emília


Sou boneca
de pano, linhas e sonhos

Não ando, não páro em pé.
(não tenho ossos que me sustentem.)

Da minha boca costurada
nada sai.

Os meus olhos de botão não enxergam.

Meu cabelo de lã não cresce.

Não respiro, não como, não durmo.
Apenas existo.

(só vivo mesmo na imaginação da criança que me fez.)

Mas sonho, sonho muito.
Em ser um dia, gente.
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*Foto por Samantha Chuva (http://subitaimaginacao.blogspot.com/)

terça-feira, 9 de março de 2010

Sempre

Existem pessoas que guardam os sentimentos só para si. Que não se entregam facilmente aos braços da paixão. Que se mantêm fechadas o quanto podem. Eu sou o oposto. Me apaixono com a mesma facilidade com que tropeço, – e isso não é difícil de acontecer – quando vi já estou enfeitiçada. Não sei viver sem ter alguém para amar todos os dias. Ou pelo menos brincar de amar. Não sei viver sem me apaixonar.

Às vezes tento recusar o vício, mas sempre tenho uma recaída. A paixão vem ao meu encontro sem que eu possa realmente evitar. Quando vi já estou apaixonada. E o que mais posso fazer se não me entregar completamente? É inútil lutar contra, melhor abraçar a euforia e curtir as fantasias.

É claro que não estou isenta dos riscos. Quase sempre tenho o meu coração partido. Mas isso não é problema, coração é consertável, o meu já está cheio de remendos. E não tenho medo de mais um tombo, mais uma decepção, mais uma rasgo no tecido, mais uma rachadura no vidro. Não se entra num jogo pensando na derrota. Penso sempre na vitória, um outro coração para cuidar e chamar de meu. E um outro alguém pra cuidar do meu próprio.

Sei que tudo parece bobagem e quanto mais maneiras diferentes arranjo para dizer, mais bobo vai ficando. Sou romântica e não sei viver sem amor, sem buscar amor, sem respirar amor. Seria tão mais fácil aprender a viver sem ele, mas qual a graça da vida se ela não for difícil? Não há prazer maior em ter um sentimento correspondido.

E assim vou seguindo. Sempre apaixonada, quase sempre feliz.

segunda-feira, 8 de março de 2010

Falar Demais

- Não, eu não to apaixonada por ele. É cedo demais pra isso, eu mal o conheço! Quer dizer, ele é um fofo, isso você tem que admitir. Todo simpático, cavalheiro. Ah, e o sorriso dele... Fala sério, você não reparou que ele sorri de uma maneira diferente? É tão natural, tão espontâneo. É lindo... Mas é claro que eu não to apaixonada por ele. As nossas conversas são ótimas, ele me entende, a gente gosta das mesmas coisas. É tão difícil encontrar alguém que goste das mesmas coisas que a gente, que tenha os mesmos sonhos! Você tem que admitir que é muito louco isso, eu não tenho culpa. E ele me ouve, todo educado, ri das bobagens que eu falo... Ele ri muito das coisas que eu falo! Eu não sabia que eu era tão engraçada até conversar com ele. Mas será que ele ri de mim ou ri comigo? Ah, esquece, ele é gentil demais pra rir de mim. Mas eu não to apaixonada por ele. Eu só o conheço há poucos dias, isso não existe! E não tem nada a ver a gente junto, quer dizer, não faz sentido, você entende. Mas eu gosto dele, claro, como amigo. Um bom amigo. Acho que ele pode ser um grande amigo. A gente tem tanto em comum! É muito raro isso. E ele é fofo desde o primeiro momento que a gente se falou. Acho que ele também gostou de mim. Tenho quase certeza de que a gente ainda vai ter alguma coisa, é o destino, sabe? Mas não, eu não to apaixonada por ele. Que doideira! Eu não to apaixonada por ele. [pausa] Mas o que foi que você perguntou mesmo?

- Eu só queria saber o nome dele.

[engole em seco, engasga, tosse, sua, respira, arfa, morde o lábio]

- Ah... É Marcelo.