sábado, 15 de dezembro de 2012

Resoluções de ano novo

Acho que nunca escrevi uma resolução de ano novo. Já estabeleci metas para certos períodos do ano, mas nunca consegui cumprir. Fazer dieta, ir à praia todo verão, ler todos os livros da minha estante, escrever um romance... metas que até hoje não consegui cumprir, mas ainda dá tempo. E talvez ainda dê tempo pra eu cumprir com as minhas resoluções pro ano que vem, que são basicamente formas de consertar os top dez erros que cometi nos anos passados. Mesmo que o mundo acabe na sexta-feira que vem, acho que vale um esforço de tentar mudar.

1. Falar mais pelo telefone do que pela internet. Dane-se a praticidade e a economia de gastos. Pra manter os laços é preciso contato, se não visual e físico, que seja ao menos sonoro.
2. Perguntar se errei em vez de esperar que me apontem o erro. Se alguém não for o primeiro a falar, só vai existir o silêncio.
3. Pedir desculpas, mesmo quando achar que não tive culpa. A gente às vezes magoa mesmo sem querer e um pedido de desculpas pode salvar amizades.
4. Estabelecer limites e não ultrapassá-los. Isso serve pra qualquer coisa. Interprete como quiser.
5. Agir em vez de esperar que ajam. Novamente, alguém tem que começar a se mover, e se ninguém ao redor está fazendo isso, quem tem que fazer é você.
6. Correr atrás do que é importante. Se deixar passar, vai ser tarde demais e ninguém vai ter pena de você.
7. Não ter pena de mim mesma. Autopiedade não combina com autoconfiança.
8. Ser mais confiante. Nos outros, no mundo, e em mim, também.
9. Valorizar os meus esforços e conquistas. Ter um pouco de orgulho nessas horas não machuca ninguém.
10. Sorrir mais. Se ninguém morreu ou ficou doente, não falta dinheiro, tenho amor da família e dos amigos, tenho saúde, sou livre, faço o que eu gosto e consigo me divertir, não tenho motivos suficientes pra ser triste.


domingo, 11 de novembro de 2012

Algo a dizer



O maior medo de um escritor é não ter mais o que dizer. Histórias podem sempre existir, mas é preciso saber como contá-las e o que se quer dizer com elas. Que ideia comunicar. Um escritor que perde essa capacidade deixa de ser relevante. Passa a falar sobre o nada. Não me leve a mal, há muitos que escrevem sobre o nada. Ou sobre o tudo. Mas escrevem com propriedade, com um propósito, com algo para dizer. Uma reflexão, uma crítica, o que seja. Sabem por que estão escrevendo, sabem aonde querem chegar. Eu, por exemplo, já não sei.

Sinto que mal comecei a escrever e já perdi o que ia falar. Às vezes sinto que não tenho nada a dizer. Nadinha de nada sobre nada. Como se tivesse perdido a capacidade de me comunicar, não só pela escrita, mas pela fala também. Quase já não abro a boca para falar com alguém, e quando abro, é com uma sensação de desconhecimento. As palavras me saem estranhas. Como se não me pertencessem. Como se fossem signos de uma língua estrangeira que eu não sei pronunciar, ou não sei o significado. Falo e não sei o que quero falar. Escrevo e não sei o que quero escrever. As palavras tornaram-se minhas inimigas. Zombam de mim na folha branca, escondem-se em dicionários. Tento tirar algum sentido delas, forçá-las a significar alguma coisa no meu texto. Mas elas me traem. Me enganam. Subvertem minha escrita e riem do meu esforço por fazer sentido. Me fazem de bobo.

Eu queria dizer alguma coisa quando comecei esse texto. Mas já esqueci.
As palavras fugiram de mim.

De novo.

segunda-feira, 11 de junho de 2012

Eterna namorada

Nem parecia
que os anos haviam passado
e que seu rosto tinha mudado
- Seu doce sorriso permanecia

Ela ainda sabia
de cor e salteado
o repertório do fado
e os versos que ele dizia

Ele se lembrava
do primeiro beijo na branca mão
e do roubado no portão
que ele ainda desejava

Nem precisava
ela ter dito 'não':
'sim' dizia seu coração
e era o que bastava

Ela conhecia
os segredos do amado
como as linhas do bordado
e nela o amor ainda vivia


Ele ainda amava
sua eterna namorada
Que após trinta anos de casada
risonha e bela continuava

terça-feira, 8 de maio de 2012

Belo Horizonte

O mar aos meus pés
Montanhas no horizonte
E o vento que chega
Soprando seu nome

Me levam pra longe
Pra outro recanto
Pra outro horizonte
Sem mar ou areia

Sem canto de sereia
Mas tão belo quanto
E onde mora quem amo:
Você.

A saudade não mata
Nem recolhe o pranto
Mas mantém vivo o sonho
De um outro viver:

Viver de amor
E junto a você
Meu bem querer
Mon bien-aimé

Da manhã ao anoitecer
Sonho conosco
Em nosso belo horizonte
Juntos a viver.

quinta-feira, 19 de abril de 2012

Love can be easy,
when you free yourself from misery
But it can be hard
if you don't give voice to your heart

Love can set you free
if you just relax and let it be
But if you don't give yourself a break
you're in the way to making big mistakes

Take it easy, little girl
it's not the end of the world
lay back, watch the stars above
and finally give a chance to love

sábado, 14 de abril de 2012

É noite

É noite, amor
vem ficar
perto de mim
vem dissipar
o sonho ruim
e me deixar
dormir enfim.

É noite, amor
vem me dar
um beijo
vem matar
o meu desejo
e me fazer
um pão-de-queijo.

É noite, amor
e a lua está linda
a chuva é bem-vinda
e minha tristeza, finda.
Estava do outro lado da rua, bem na minha frente. Era noite, eu estava sem óculos, mas reconheci a visão semi-embaçada mesmo à distância, porque depois de tanto tempo, consigo reconhecer aquele cabelo, o desenho do corpo, o jeito como os pés calçados em tênis caminham pelo asfalto e como os braços se mexem com o movimento, a cabeça virando de lado para olhar os carros enquanto atravessa a rua, a bolsa atravessada pelo corpo, o nariz e a barba sempre cheia.

Reconheço esse perfil mesmo no escuro, de costas, até. Sua presença é marcante demais para não ser percebida. E ainda assim, banal demais para me causar qualquer emoção agora. Observo-o atravessar a rua e sumir completamente do meu campo de visão. Volto o rosto para a frente e continuo meu caminho, sem tremor nas pernas, suor nas mãos ou taquicardia. Subo no ônibus, me sento à janela, olho o mar e me perco na sua cor azul, e daí os pensamentos voam para outros cantos.

Só bem mais tarde volto a pensar na figura que vi na rua, procuro algum sentimento dentro de mim que pudesse se relacionar àquele, agora, estranho, mas não encontro nada no poço que já foi repleto de toda sorte de emoções. O passado já não cabe no meu coração.

(embora continue sendo motor para a minha inspiração)

sexta-feira, 16 de março de 2012

Medo do Mar

Numa ilha nasci
à beira-mar fui criada
pelo mar tenho apreço
e medo de ser tragada

Meu amor pelo mar
é como uma onda na praia
avança e recolhe
se esparrama e se encolhe

Amo o mar na tempestade
com sua cor gris
as nuvens carregadas
como um desenho de giz

Amo o mar em seu azul sem fim
me perder em suas águas claras
mergulhar na espuma marfim

Temo o mar porque é grande
como o mundo ao meu redor
temo nele me perder
e me ver completamente


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Medo do mar
medo de amar
medo de mergulhar
e não querer mais voltar.

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O amor é um pouco como o mar
e no entanto não hesito
em amores me afogar

quarta-feira, 14 de março de 2012

Doente de amor

Febre, calafrio, dor no coração...
Sintomas de saudade
que me tomam de sopetão
Já vai passando da hora
de rever minha paixão.

segunda-feira, 5 de março de 2012

Eros e Psiqué

Tal qual o de Psiqué ao se descobrir esposa do amor, é o meu encanto de manhã quando nossos olhos se encontram.

É o belo rosto do amor que me sorri, tornando toda a existência terrena um mero sonho de uma realidade vivida no paraíso.


Deixamos de ser pobres mortais e bebemos do néctar eterno do Olimpo, onde a alegria é plena e o amor transborda.


É assim que me sinto com você: transbordando de amor.


E dessa taça também vaza felicidade e contentamento


E toda essa plenitude me faz flutuar, como se eu fosse feita de vento.


Mergulho no céu de nuvens esparsas e nado no azul sem fim do seu amor.


É doce a vida quando se escolhe amar.


É doce abrir os olhos pela manhã e te encontrar.

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Solidão tem várias formas
e diversos meios de se manifestar
Cada uma pior que a outra
e todas me fazem chorar

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Olhares

e no instante que seus olhos de agua miraram os meus
tudo em mim tornou-se gelo
azul como a cor do seu olhar

tao frio e tao profundo
que minha alma cessou de cantar.

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seu olhar era tao doce
que toda a amargura em mim
se dissolveu.

e nos meus labios
que jaziam selados
um sorriso apareceu

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Inverno

Sobretudo o frio. Era o que mais dominava seus pensamentos naquela noite branca. Na varanda da casa, coberta dos pés à cabeça de todas as peças de roupa que possuía, ela enfrentava o vento gélido e ignorava os flocos de neve que atingiam seu rosto. Sozinha na noite, ela esperava. Mas não era uma espera qualquer. Não tinha um propósito. Sabia que tinha que esperar, pois alguma coisa aconteceria. E isso era tudo.

O frio também não deixava espaço para muitos outros pensamentos. Ela concentrava todas as suas energias em imaginar a temperatura daquela noite, só que ao contrário: 29 graus positivos, 29 graus positivos, calor, suor, praia. Era como um mantra. Imaginava uma praia de areia fervilhante com palmeiras por todo canto. Mas bastava que abrisse os olhos e contemplasse a imensidão de neve à sua frente para que se esquecesse completamente do calor e do sol. A rua, a calçada, a grama, tudo era um só, um todo único e branco, muito branco, profundo, limpo, novo, macio. Gelado. No lugar de palmeiras, pinheiros. No lugar de barracas de praia, tímidas casinhas brancas e beges, coladas umas às outras, como que tentando se esquentar. Nem o concreto aguentava o frio, mas ainda assim ela esperava, por algum sinal, um qualquer coisa que surgiria do meio da tempestade.

Aos poucos foi tomando forma. Uma figura esguia e negra, bem ao longe, quase imperceptível no meio da nevasca. Foi ficando cada vez mais nítida à medida que se aproximava, caminhando a passos confiantes e deixando suas pegadas sobre a neve fofa. Ela reconheceu a figura, e pôde então se lembrar do que esperava. Quando ele subiu as escadas da varanda, ela sentiu seu rosto se degelando aos poucos, fazendo surgir um sorriso. Ele trazia outro sobre os lábios e um pacote nas mãos enluvadas.

"Pensei que tivesse esquecido", ela disse, tomando o pacote nas mãos.
"Mesmo com toda essa neve, não esqueceria de um pedido tão importante. Abre."

Ela abriu o envelope pardo e de dentro saíram resquícios de sol, céu azul, palmeiras e areia quente. Retratos de um verão inapagável, mesmo que tão distante.

"Feliz verão", ele disse.

Eles sorriram com a lembrança e o inverno pareceu derreter.