sábado, 14 de abril de 2012

Estava do outro lado da rua, bem na minha frente. Era noite, eu estava sem óculos, mas reconheci a visão semi-embaçada mesmo à distância, porque depois de tanto tempo, consigo reconhecer aquele cabelo, o desenho do corpo, o jeito como os pés calçados em tênis caminham pelo asfalto e como os braços se mexem com o movimento, a cabeça virando de lado para olhar os carros enquanto atravessa a rua, a bolsa atravessada pelo corpo, o nariz e a barba sempre cheia.

Reconheço esse perfil mesmo no escuro, de costas, até. Sua presença é marcante demais para não ser percebida. E ainda assim, banal demais para me causar qualquer emoção agora. Observo-o atravessar a rua e sumir completamente do meu campo de visão. Volto o rosto para a frente e continuo meu caminho, sem tremor nas pernas, suor nas mãos ou taquicardia. Subo no ônibus, me sento à janela, olho o mar e me perco na sua cor azul, e daí os pensamentos voam para outros cantos.

Só bem mais tarde volto a pensar na figura que vi na rua, procuro algum sentimento dentro de mim que pudesse se relacionar àquele, agora, estranho, mas não encontro nada no poço que já foi repleto de toda sorte de emoções. O passado já não cabe no meu coração.

(embora continue sendo motor para a minha inspiração)

2 comentários:

Bruna Andrade disse...

Muito bom! Claro e (in)felizmente muitas pessoas se identificarão com ele! Como as coisas são efêmeras apesar de sempre tentarmos acreditar na eternidade delas...

Olívia disse...

Acho que sei de quem se trata!


E me identifico. É mega estranho encontrar com pessoas que participaram de anos da nossa vida e que após um tempo não passam de meros estranhos. Às vezes é meio triste.