segunda-feira, 15 de março de 2010

Certas coisas nunca mudam

As férias inteiras esperou pelo reinício das aulas. Seu coraçãozinho infantil não aguentava mais de tanta palpitação. É hoje!, É hoje!, cantava pra si mesma, escondendo o riso com a boca, as bochechas coradas só de pensar. É que a pequena Isa já não aguentava mais ficar longe do Marcelinho, o garoto mais bonitinho da escola...
Naquele dia acordou cedo, tomou um banho, arrumou os cabelos, colocou brincos, pulseiras e anéis, pra dar um charme no uniforme sem graça do colégio. Enfeitou-se toda sentindo-se muito mais velha. Afinal, agora já estava na quinta-série. Já era quase uma moça!, pensava Isa.
Chegou na sala de aula bem no horário, sem atraso, a professora até elogiou. Escolheu o melhor lugar, bem lá na frente, bem perto da porta, onde o Marcelinho certamente a notaria assim que chegasse. Isa estava ansiosa.
As outras crianças foram chegando e se instalando. Isa aguardava pacientemente, folheando os novos cadernos que escolhera com a mãe semanas antes. A qualquer momento ele ia chegar. Ele ia chegar e passar por ela, bem ao seu lado. Ele ia chegar, cumprimentar a professora - como o menino bem-educado que era - se dirigir ao seu lugar, passar por Isa e ela ia sorrir. Sim, ele ia passar por ela e ela iria sorrir. Iria sorrir para ele. Sorriria e diria, Oi, Marcelinho. Bem assim, um sorriso e um Oi, Marcelinho.
Isa estava escrevendo seu nome bem caprichado com caneta colorida na primeira folha de um dos cadernos quando Marcelinho chegou na sala. Ele chegou, cumprimentou a professora, passou por ela. Chegou e passou por Isa. Passou por Isa e ela não disse nada. Passou por ela e Isa não sorriu. Marcelinho chegou, passou e Isa não sorriu, não disse seu Oi, Marcelinho. Isa ficou muda, mal tirou os olhos do caderno, só viu as pernas de Marcelinho passarem ao seu lado e se encaminharem para uma carteira algumas filas atrás dela. Marcelinho passou por ela e ela nem olhou, nem sorriu, nem disse Oi, Marcelinho.
Isa ficou tímida! Não conseguiu olhar, não conseguiu sorrir, muito menos dizer, Oi, Marcelinho.!
Isa ficou triste pelo resto do dia.
-----------------
Isabela cresceu, ficou mais madura, mais segura. Mas ainda ficava muda toda vez que um Marcelo ou Bernardo passava por ela. Ela queria sorrir e não conseguia. Queria dizer oi e nada saía.
Certas coisas nunca mudam.

Nenhum comentário: