quarta-feira, 14 de julho de 2010

Sobre Eternidade

Andei relendo uma crônica da Clarice Lispector, "Medo da Eternidade", com alguns amigos. Mais de 24 horas depois, o tema voltou a passear por meus pensamentos, numa conversa com outro amigo.
Aprendemos com a vida que tudo tem prazo de validade. Comida, bebida, cosméticos, remédios, relacionamentos, palavras (quem diz que palavras são eternas, deve pensar sob um outro aspecto: palavras são ditas e não se pode voltar atrás, é verdade; mas elas podem perder o sentido com o tempo, e aí por isso tem validade), sentimentos... Ora, até a própria vida.
Então significa que estamos acostumados com o fim das coisas? É claro que não... O prazo de validade é um fato, mas quem disse que é pra gostarmos disso? Então devemos idolatrar a eternidade, tão rara e efêmera? Não necessariamente...
Como Clarice diz na crônica, o chiclete dura para sempre, mesmo depois que o gosto doce já passou e só restou o grude azedo. Ele é eterno, não acaba nunca, mas não significa que ainda é prazeroso. Veja bem, não digo que a eternidade precisa ser amarga e que tudo o que é bom precisa ter um fim (embora às vezes seja isso mesmo).
Na verdade, o que eu queria dizer aqui é outra coisa. É sobre a duração das coisas sim, mas não em toda a existência delas; é sobre a eternidade em cada momento.
Momentos que são tão prazerosos que mesmo muito depois de já terem passado, tornam-se eternos pela lembrança que deixam. Momentos que podem nunca mais se repetir, e que precisam ser, portanto, eternizados de alguma forma. Momento é coisa tão efêmera que se não for eternizado, passa, é esquecido em seguida e deixa de ter a importância que tinha.
Já quis muito que alguma coisa durasse pra sempre, como todo mundo, e assim também já almejei a vida eterna. Mas olhando pelos aspectos negativos da eternidade, como faz Clarice na crônica, percebo que não quero nada disso de fato. Quero sim viver momentos maravilhosos, conhecer pessoas e lugares encantadores, escrever sobre tudo o que me dá vontade e ser reconhecida por isso.
Nada de lamentar que alguma coisa poderia ter durado mais ou menos, ou que não precisava ter acabado. Tudo dura o que tem que durar, cumpre seu prazo de validade eventualmente. Mas se a alegria se mantém a mesma ao revisitar aquele momento, sem arrependimentos nem mágoas, é só o que importa. O momento já está guardado. Já está eternizado. Pra quê desejar que tivesse durado mais ou menos? Voltar ao passado está fora de cogitação, e se não agradou, não merece a eternidade, pronto.
Pra alguns, só momentos muito específicos merecem a eternidade. Pra mim, bom mesmo é eternizar cada uma das coisas boas que se vive, sem uma hierarquia obrigatória, num caderno de lembranças que vai sendo atualizado a cada novo dia, a cada nova experiência prazerosa.
Assim, as coisas se tornam eternas, ainda que respeitando as regras do prazo de validade. Mas sem amarguinho no fim.

Um comentário:

Matheus Ferreira Rocha disse...

Luiza: Me fazendo parecer que sou mais profundo que eu sou desde 2009.