domingo, 25 de abril de 2010

Ação

Ela parou de andar ao lado da grade do mirante e ficou de frente para ele.
 
- Então, o que estamos fazendo?
- Achei que estivéssemos tomando milkshake.
Ela revira os olhos e o encara mais firmemente.
- Não, eu quis dizer: o que nós estamos fazendo? O que estamos fazendo?
- Ah...
Ele pára, joga o copo numa lixeira próxima e olha para ela, pensando.
- Eu não sei. Achei que estivéssemos curtindo.
- Sabe, no início parecia incrível, misterioso, mágico... Mas agora... Agora... Eu não sei de mais nada! Eu não entendo você, você não me entende... A gente obviamente não se comunica muito bem... No entanto gostamos da companhia um do outro e às vezes conversamos sobre muitas coisas...
- Você não gosta?
- Gosto... Não sei. Mas o que é isso? Sabe, o que nós somos? O que nós temos? Eu não sei pra onde estamos indo nessa história. Nem sei mais se realmente temos alguma coisa.
- Espera, é claro que nós temos alguma coisa... Mas desde o início combinamos que não colocaríamos um nome nisso...
- Eu sei. Eu sei... Mas isso me incomoda. Eu não sei o que estamos fazendo, eu e você. Não sei o que somos.
- Mas você lembra o que combinamos? De sermos pacientes? Pra não corrermos o risco de acabar nos magoando...
- Sim, eu lembro. E foi um bom plano. Mas o problema é que agora eu já estou magoada antes mesmo de termos começado.
Ela remexe os cabelos e apoia os braços na grade, encarando a cidade lá embaixo. Pausa. Ela volta a falar.
- Eu sinto que falta alguma coisa. Você não acha? Que falta alguma coisa?
 
Ele parou ao lado dela, o cotovelo apoiado na grade. Pensou. Olhou. Ela ansiava por uma resposta, olhava-o intensamente. O vento bagunçava aqueles cabelos castanhos que ela se empenhara tanto em arrumar, mas ela não ligava. Ele afastou uma mecha de cabelo e prendeu atrás da orelha. Ela continuava encarando-o, muda.
 
Durante todo aquele tempo ele esperara. Esperara que se conhecessem melhor, que ficassem amigos. Esperara pelos momentos certos para iniciar uma conversa ao telefone. Esperara pela hora certa de chamá-la para sair. Sempre esperava por uma palavra dela para ter certeza de que o que tinham era recíproco.
 
Ali, vendo-a com aquele olhar angustiado de quem já não aguenta mais tanta espera, sentiu pela primeira vez que podia começar a perder tudo isso que tinham (ou que chegariam a ter um dia). E como quem anda por dias num deserto e finalmente bebe um copo d'água, ele cansou de esperar: agiu.

2 comentários:

Laís Ramos disse...

UFA!

Sam disse...

Luz, Câmera, AÇÃO!!!
;P