quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Tempo

Você tira os olhos do que está lendo e me pergunta o que estou fazendo. Observo um sapo coachar e experimento retê-lo em meus dedos. É difícil. Você pergunta se eu não deveria estar estudando praquela prova. É, eu deveria. Mas olha como esse sapo é grande, já viu outro assim antes? Não, você não viu. E ri, diz que eu vou ser reprovada. Não gostei, gostava mais quando você mentia e dizia que eu ia tirar dez. E daí se aquilo era no tempo de criança? Pra mim o tempo não passou, pra você aí já é outra história. Anda, vai, estuda, lê mais um pouco, faz um esforço. Mas eu estou fazendo o maior esforço do mundo pra segurar esse sapo, a pele dele é gelada e escorrega, não ta vendo? Você me sorri e diz que me ama. E que desse jeito eu não vou passar de ano nunca. Mas eu bem nem quero passar de ano. Esse ano foi tão bom, pra quê passar pra um outro, novo, diferente, desconhecido? Vamos, me ajude a pegar esse sapo, deixa os livros pra lá, vamos ficar nesse tempo pra sempre! Você diz que eu devia me casar com o Peter Pan. Eu não concordo, por que estamos falando em casamento? Nada, nada, besteira. Deixa eu te ajudar com esse sapo. Corremos atrás, ele pula, ele coacha, ele escorrega por nossos dedos. Que nem esse tempo que teima em passar. E quando percebo não estamos mais no meu jardim estudando para as provas finais, você tem um emprego e eu tenho um marido. O nome dele não é Peter Pan e eu não tenho mais vontade de ser criança. Agora eu tenho uma criança. E agora é você que está atrás daquele sapo.

Um comentário:

Anônimo disse...

e ele passa. o tempo passa mesmo. mas os sapos se transformam em outros bichos e outros sonhos. o importante é não parar...